Pedro Henrique

Das muitas coisas que fazemos para nos sustentar, aplicação de provas é uma delas. Nesse dia, dirigi-me a um povoado distante quase cerca de 50km de onde vivo, aplicando provas para alunos que estão no 5° ano ensino fundamental I e cursaram essas séries iniciais durante a pandemia.

Não desejo aqui expor os problemas da educação durante nesse período, tampouco discutir sobre as questões socioeconômicas e suas influências. Quero falar de um aluno. Seu nome: Pedro Henrique.

Como todo Pedro, nada quieto, falante, teimoso e esperto. Passei as orientações das quais ele não ouviu nenhuma e fez o que queria. Vez ou outra vinha até a mesa que eu estava, tirava uma dúvida, respondia à questão e voltava.

Ele prestava atenção quando precisava da resposta e, mas depois fazia o que queria. Visivelmente inteligente, escolhia as questões que queria fazer logo. Quando dizia que não entendia um texto e era questionado se lia, baixava a cabeça em silêncio e voltava ao seu lugar.

Pedro Henrique fez alegria da turma (menos a minha que precisava de silêncio), respondia as questões em seu ritmo, como se houvesse todo tempo todo mundo.

Mas não havia.

Ele não conseguiu chegar ao fim da prova. Faltando menos de três minutos para encerramento, insisti que passasse ao menos as questões feitas para o gabarito, ele o fez e quando me entregou a prova perguntou:

- Pró, todo esforço foi em vão?

Olhei para ele, vendo aqueles os olhinhos castanhos nervosos de ansiedade e respondi que ainda acertando uma só questão valeria a pena.

Depois, ao conferir a prova, percebi que ele não tinha ouvido minha orientação e usado corretivo em seu gabarito, a prova será anulada. Não disse nada. Deixei-o ir lanchar porque afinal, esse sofrimento seria desnecessário.

O problema é que horas depois do fim da prova, a pergunta de Pedro Henrique ainda atormenta meus pensamentos, afinal todo nosso esforço é em vão?

Tamyrys Hadassa
Enviado por Tamyrys Hadassa em 21/11/2022
Código do texto: T7655028
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