Oratório

Montei num cantinho de minha casa um pequeno “oratório".

Já não tenho mais tios e nem tias, muito menos, pai e mãe. Essas pessoas me fazem tremenda falta, deixaram saudade e alguns foram espetaculares para meu crescimento interior e de exemplos de lazer e vida.

A solidão impeliu me para essa ideia, mas com animação, usaria os objetos que foram importantes para eles e as fotos deles, a saber, meus pais e meu tio.

Os objetos eram uma Bíblia católica com um crucifixo de madeira de uns 12 cm comprimento, e, uma caderneta com uma capa dura marmoreada e com um símbolo em dourado com orações da fé espírita que meu tio professava.

Meu tio Alberto foi para mim e todos de casa um segundo pai, acompanhando a nossa vida diariamente, nos conduzindo e acolhendo. Um ser iluminado.

Vivenciei o respeito, a tolerância e o diálogo entre minha mãe e meu tio. Eles falavam assim um do outro:

“respeito muito sua mãe, ela é uma boa católica”;

“ respeito muito seu tio, ele é um excelente espírita, sempre pronto ajudar a cunhada cega, e quem dele precisar ”.

Na escolha das fotos de meu pai, comparei: o mocinho; o pai jovem; bem idoso, e acabei elegendo a de olhos e sorriso de bondade.

Do tio Alberto tinha apenas uma, mas linda!

Na de mamãe optei por uma fotografia em que estava sob uma árvore em absoluta floração, de modo que parece que a natureza a está festejando.

"Oratório" ficou pronto.

No começo entrava no quarto e sentia medo, a inspiração para conversar com eles me abandonava.

Depois, os via como meus ancestrais espiritualizados, que pediram por mim aos seus deuses a vida toda, e que mesmo sem acreditar, eu recebi como carinho, e, os acato de alguma forma.

Estive perto deles lá no quartinho várias vezes, olhando-os, deixando os pensamentos acontecerem, e produzirem reações químicas no cérebro, que conforme a neurociência, alteram nosso corpo físico, e, nosso estado interno.

Recursos de bem querer, de cultivar a própria história, de suplantar a saudade e fazer interagir a força viva com a dos ancestrais.

Carinhosamente, para Mamãe, Papai e Alberto