De esquerda

Na comunidade de trabalhadores e trabalhadoras, é frequente encontrarmos pessoas muito boas, muito compenetradas, muito competentes, coletivas e amorosas. Essas qualidades, eu vi ou ouvi relatos em movimentos de campesinos, de trabalhadores rurais sem terra.

Em instituições com diferenças muito importantes nos salários, e onde há também uma hierarquia, isto é, relações de subordinação, é muito mais difícil encontrar os trabalhadores afinados em expressar seus direitos e aquilo que se convencionou chamar de ser de esquerda.

Um dia uma supervisora de esquerda pediu à um funcionário de esquerda se estava com tempo disponível, ele disse que sim. Ela pediu então que ele encerasse uma mesinha; e a resposta foi “isso eu não faço, é desvio de função”. A mulher surpresa, jamais imaginou receber tal negativa e desse funcionário, e respondeu, “aqui nesse serviço público não recuso nenhuma tarefa que possa executar e ajudar alguém, amanhã ou depois eu mesma farei”. Que ideia de direito, cargo, função essa pessoa têm? Existia ali algum trabalho indigno?

(Amigas e parentes me fizeram ver que cada profissão, e, portanto, contrato de trabalho é protegido pela lei e olhe lá! Então, não é apropriado o julgamento feito).

Muitos trabalhadores afirmaram que na pandemia, mesmo numa situação de guerra civil, não tinham costume de dar “esmolas”. Nesse grupo havia trabalhadores de esquerda e de direita. Os homens e mulheres de rua eram trabalhadores que perderam tudo, e sem governo que os acolhesse. Então o “pedinte” atrapalha a luta de esquerda? Porque se fosse um movimento organizado todos estariam se alimentando, e aí sim se veria a estratégia de não fazer a parte do governo, liberando recursos. Ou seja, não é por estratégia de luta, mas sim, para proteger seu patrimônio!

Outros trabalhadores mantem uma espécie de raiva de seus superiores, não somente por eles demonstrarem abuso de poder, mas, justamente porque desejariam estar no lugar destes chefes para ganhar igual e mandar igual também. Algo do tipo se chego na chefia você estará arruinado. Como assim?

Acontece que pessoas com salários bem maiores que outras, se sentem superiores, esquecem o absurdo do critério da meritocracia, e mesmo se declarando de esquerda, não apoiam efetivamente os colegas em seus movimentos salariais. Nessa hora, o corporativismo ascende e dificulta a luta política.

E quanto à posição numa guerra que tem sempre o imperialista mor (USA) e suas vergonhosas afirmações de estarem defendendo a democracia de povos que não os chamaram, ou o uso da famosa guerra às drogas que são muito mais problemas deles próprios. Destroem tudo, agridem, congregam aliados para interferirem na vida de outros países, impõem embargo econômico. E aí, se vê apoio explicito de gente da esquerda. Questionam sobre acreditar nisso tudo. Falam em paz, acusando o outro lado, e como se fossem garantir a paz! Temem o comunismo. E nem sabemos de verdade defini-lo.

O que é ser de esquerda?

A esquerda se caracteriza:

*pela defesa de uma maior igualdade social

*por se preocupar com os cidadãos que estão em desvantagem em relação aos outros

*supor que há desigualdades injustificadas que devem ser reduzidas ou abolidas.

Não tem que disfarçar, nem temer, é preciso ser de esquerda explicitamente em toda decisão a tomar, desde a reunião de condomínio.