I-XCII Jaezes de vida e morte

Os perigos da ambição vêm sem que a arte cale,

como se o valor deste mundo fosse a realização das vontades.

Minha casa vazia ecoa mais histórias que Lemúria afundou,

fazendo-me eterno fantasma sem trégua no amor.

Vivo amado, cuidado, como filho e como marido,

por meu Pai, pela família e amigos,

por desconhecidos, vivos ou escondidos.

Digo todos os dias sobre meu amor,

escondendo o anseio, sequela da dor.

Privilegiado recebo em dobro, e mais durmo

com um olho. E sem que eu perca alguma coisa,

já sinto-me sozinho sobre os ombros de meu Pai,

sob o destino resguardado e garantido,

e enlouqueço sem que algo faça sentido.

E diante de centenas de palavras, finjo não ouvir respostas,

forçando um instinto de prever o que não conta.

Assim vivo exausto na ciência,

rodeado de quem, prega a mim, carência.

São sacrifícios que eu quis, mas finjo ser indícios de um fim.

São consequências das vontades que, de longe, mais

me causam alacridade.

Que Deus tire de mim, até esta última palavra,

o anseio de criar conclusões precipitadas.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 08/06/2023
Código do texto: T7808668
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.