I-XCIII Jaezes de vida e morte

De uma população que não se acaba,

tenho minha arte exilada,

e mais minha vergonha por não ser nada.

Quão fútil é meus afazeres que,

de tanto fazer, alucino sobre algo ser.

Desencarno dos sonhos que outrora nutria,

abandonando-os como folhas que o vento impelia.

Me desprendo do mundo terreno,

em busca de um lugar além, do eterno sereno.

Apesar de viver da ânsia, a cicatriz da dor,

declamo diariamente meu amor e fervor,

quase como obrigação, se tornou saudação.

É prece a Deus, minha afeição.

É meu túmulo, no vazio, próximo ao rio.

Semeia má poesia para perder a alegria,

e cubro-nos de letras e versos,

até perdermos o eco, os olhares dispersos.

E, sob silente oração, a alma volta à expansão.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 09/06/2023
Reeditado em 09/06/2023
Código do texto: T7809500
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