Busco viver, não apenas sobreviver

Preciso escrever o que não tenho a quem dizer. Preciso abrir-me em páginas em branco, descrever em cada palavra uma emoção diferente. Demonstrando minhas desilusões e tristezas que são reais. Sinto a cada dia meu ser desfalecendo se, como se estivesse bem ao meio de um naufrágio, e só por um milagre sobreviverei.

Não consigo descobrir meu próprio eu! Não consigo controlar-me. Sempre tento algo temendo que as pessoas não gostem de mim. Não gosto de sofrer! Nem quero mais sofrer. Por isso muitas foram às vezes que decidi afastar de mim muita gente. Tenho um coração que bati e sente muito! Não sou uma pedra que com nada se comove. Posso até ser dura, mas sou comigo mesma. Chego até pensar que tenho medo da felicidade, e sinto medo ainda de enfrentar este medo. Eu sei que não adianta fugir, pois os problemas não desaparecem, as tristezas também não. Apenas tiram um “cochilo”, adormecendo por um breve e leve sono. Sinto que por muito eu também adormeci, não querendo mais acordar. Como eu não queria fugir, não esconder- me por detrás de máscaras, demonstrando a felicidade que não sinto, a alegria que não vivo. Preciso ficar em paz comigo mesma. Saber o que procuro! saber de que me escondo. Será do sofrimento?! Sofrer! Todos sofrem, na vida há sempre sofrimento! Será da angustia?! Mas de quê? Talvez por não tiver feito algo que estava ao meu alcance e não fiz, ou não fui capaz de fazer. Ou será que escondo de mim mesma?

Meu Deus! De que tenho medo? De que me escondo? O que me faz falta? Como posso saber se nem me conheço? Não sei quem sou, o que um dia serei. O que sei de mim é que sou sentimentalista ao extremo, e igual a todos os outros que também são. O que diferencia é o conteúdo, pois a forma do conteúdo é a mesma. No fundo devo ser ainda uma criança, não amadureci o suficiente para saber o que viver. Acho que apenas sobrevivo. Nunca questiono! Não me limito às decepções que outros me causam, e por isso sofro. E por ter mentido pra mim mesma, me perdi no meio do caminho. E sem saber qual caminho me levará de volta a vida.

Sobreviver acabou tornado se um círculo vicioso, pois não sei onde começou e muito menos onde terminará. Será que terei tempo de me encontrar? Será que encontrarei essa resposta e muitas outras que até hoje estão perdidas? Talvez elas estejam perdidas, pois não perguntei a quem pudesse me responder. E lamentar não resolverá. Só me fará ter pena de tudo que vim sentir.

Pouco aqui consegui escrever, muitas páginas ficarão por um tempo em branco. De nada adiantou essas palavras, pois a tristeza, o sofrimento, a falta de amor, a falta de amar, continuam dentro de mim.

Não há alegria em meus olhos, enxergo tudo acinzentado, minha cor é negra. Não vejo a luz do sol iluminando o dia. Ele escondeu se de mim! Vejo apenas uma noite escura, com nuvens carregadas, sinto um frio que me gela, é uma noite que não termina!

Desejo amar! Desejo muito descobrir o que é o amor! Será que essa noite teria fim?! E então veria novas cores?!

Não desejo apenas sobreviver ao naufrágio. Preciso descobrir quem sou eu, aceitar-me, e deixar de apenas sobreviver e finalmente começar a viver.

Mírian Alves Gonçalves