A cicatriz

Naquela tarde de sábado, passando as muitas roupas acumuladas durante a semana e que não podiam mais aguardar ela teve um acidente.

Ao recarregar de água o reservatório do ferro, a função estava na máxima temperatura: linho, e ela, inadvertidamente encostou o dorso da mão direita exatamente na borda do aparelho.

Na hora nem doeu muito, e ela continuou a dar conta do serviço, porém, nos cuidados que se seguiram, a cura não foi tão fácil.

Primeiro, porque foi mais profunda do que se supunha e depois porque a localização da lesão não facilitava a proteção e a levava a bater continuamente e a voltar à etapa zero da cicatrização.

A cicatriz ficou feiosa, no centro era um tecido duríssimo em camadas, de forma oval. Na volta dele, o tecido repuxado em forma de raias a partir do centro.

Esses pequenos fatos intercorrem e nos fazem associar coisas importantes de nossas próprias vidas.

Dependia agora de sua boa vontade: olhar para aquela cicatriz e pensar na dor, na feiura, ou, olhá-la e lembrar-se quem sabe, que foi nesses dias que se operou algo provocador:

Cicatriz é memória, marca.

Cicatrização é sarar.