Domingo de chuva e tesmpestade

Era um domingo tipicamente preguiçoso em Ari Barroso, no Condomínio Primavera. As nuvens escuras se agrupavam no céu, lançando sombras sobre a terra, como se o próprio universo estivesse pronto para uma pausa tranquila.

As árvores na praça, que normalmente ostentavam um verde deslumbrante, balançavam de forma desesperada sob a força do vento iminente. Folhas eram arrancadas de seus galhos e lançadas ao léu, criando um espetáculo efêmero de dança folhosa.

O vento, impiedoso em seu capricho, varreu a rua central do bairro, fazendo as placas das lojas vibrarem em um nhec-nhec frenético. O pó que estava há tempos acomodado nas vidraças das lojas agora era livre para se espalhar pela vizinhança, criando uma visão turva e esfumaçada.

Enquanto a ventania reinava na praça, um jovem moleque descalço testemunhava com desespero o destino de sua pipa. O vento a arrancara de suas mãos e a lançara em uma aterrissagem suicida na rua. Os amigos corriam atrás dos destroços, enquanto ciscos eram arremessados nos olhos da população, perturbando a visão de todos. Que situação!

Logo, a chuva se fez presente, descendo do céu em forma de temporal, agitada e impetuosa. O padre, segurando sua batina esvoaçante como uma lona preta ao vento, atravessava a praça com determinação. O sacristão, vendo a chegada iminente da tempestade, fechava rapidamente a porta da igreja.

As pombas, antes dispersas pelo vento, agora revoavam e buscavam abrigo na torre da igreja. O vendedor ambulante desmontava apressadamente sua barraca, enquanto os lojistas abaixavam as portas de suas lojas no final de expediente, antecipando o temporal que estava prestes a desabar. A praça, outrora movimentada, agora se encontrava deserta, aguardando a chuva que fazia arruaça.

As luzes da cidade se apagaram, e o poste caiu, deixando tudo na escuridão. A noite se tornou iluminada apenas pelos faróis dos carros que navegavam pelas corredeiras formadas pela chuva na praça.

Mas, como em todas as tempestades, a calmaria finalmente chegou. No dia seguinte, o céu estava azul, com nuvens dispersas. Os pássaros voltaram a cantar nas árvores, e o sino da matriz soou suas badaladas, anunciando o fim do temporal. Um revoar de pombas encheu o ar, anunciando que a vida havia retornado à praça. Tudo tinha sua graça.

Neste domingo de chuva e tempestade, a comunidade de Ari Barroso experimentou a efemeridade das adversidades e a resiliência da vida que continua a florescer, assim como as árvores da praça que, mesmo despidas de folhas, continuam firmes, aguardando o próximo ciclo da natureza.

pedroluizalmeida
Enviado por pedroluizalmeida em 06/10/2023
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