SURPRESA DE ANO NOVO

2008 começou bem. Esperava algo grande no Natal. Não veio. Mas ontem recebi um grande pacote. Com uma fita vermelha, cheias de estrelas brancas, embrulhado para presente, recebi um pacote diretamente do presidente Lula.

Danadinho esse Lula, fez-me surpresa pois alguns dias antes disse-me que neste final de ano não me daria nada. E eu acreditei!!! Pediu até aos seus amigos mais próximos que não falassem em pacote. Tudo para despitar e fazer-me uma grande surpresa. E eu, muito bobo, não acreditei na sutileza da frase. E ele foi bem claro: neste fim de 2007 não haverá pacote. Nem pensei no início de 2008. Abri e, nova surpresa, o pacote foi mandado por engano. Também pudera, ele é tão ocupado e está cercado de pessoas pobres como ele, que não foram preparadas para atuar no governo. Mas, como todo desempregado, elas também merecem um emprego digno, já que os empresários não reconhecem o valor delas, hábeis em falar nos microfones dos carros de som. E, nas empresas, não há postos de trabalho em carros de som! Aí não tem jeito. Tem de ser no governo mesmo.

Abri o pacote e vi o engano. Como não sou exportador e nem mecânico, não fecho câmbio de dinheiro e nem entendo de engrenagens de marchas. Pensei assim, o presente não foi prá mim. Ademais, tudo o que compro é nacional. E olhe que no Brasil temos empresas nacionais que atuam no mundo todo: Nokia, VW, Sony-Erickson, Dell, HP, Philips, LG, Armani, Makro, Carrefour, AmBev, Walita, Nike, xiii até perdi a conta.

Também não sou banqueiro. Logo, o que vou ganhar se ele mexeu na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das Instituições Financeiras? Está certo que às vezes o Bradesco e o Unibanco aumentam suas tarifas e se esquecem de me avisar. Mas a gerente que cuida da minha conta é tão simpática! Tadinha, como é novinha, ganha pouco e tem tantos clientes para atender, nem mesmo consegue lembrar meu nome. Mas eu a desculpo pois sempre dá um jeito de me tirar da fila e, gentilmente, me sugere colocar em débito automático, a conta do telefone, do gás, do celular, o IPTU, o carnê das casas Bahia e do Baú, sem contar que, pensando em mim e nos meus filhos, nunca se esquece de me dar um novo tipo de seguro de vida e um novo cartão de crédito, basta que eu pague uma pequena anuidade e a taxa da ficha de cadastro. Claro, como ela não sabe quem eu sou, tem de levantar a minha ficha junto ao departamento do próprio banco que ela trabalha e isso custa tempo e dinheiro. Acho engraçado quando ela me diz: "com certeza", "fala sério". Parece até aquele cara da televisão que morreu na Alemanha durante a Copa do Mundo. Fala sério. Como um banco pode me afetar só porque teve um aumento de 9 para 15% na tributação de seu lucro. Ao mesmo tempo, como já tenho casa própria, o aumento do IOF sobre o financiamento de casas nada tem a ver comigo e nem com quem paga aluguel, que é a grande maioria do povo brasileiro.

Só fiquei bravo mesmo foi com os empresários da Indústria e do Comércio. Pediram tanto para o Lula acabar com a CPMF (que só pega os ricos) dizendo que essa contribuição encarecia o produto brasileiro. O Lula, como sempre, pensando no bem estar de todos, concordou em acabar com a CPMF. Ele podia, se quisésse me sacanear, conversar com cada Senador, e pedir a aprovação da renovação da CPMF, acelerando a liberação de verbas de cada Estado, ou facilitando a colocação de um dos muitos desempregados desse país, amigos ou parentes do senador, em cargos do governo. Não importa se a pessoa não tivesse preparo, afinal, a gente não compra produtos e serviços do governo, logo, nem iria perceber os defeitos. Mas, não! Ouvindo a todos com igualdade e justiça, o Lula atendeu os empresários e fez de tudo para que a CPMF fosse reprovada e assim tivéssemos diminuição dos preços. Que nada! Os empresários são gananciosos mesmo. Dizem que há uma outra lei que é muito forte. A tal da Lei da Oferta e da Procura. E é por causa dessa lei que os preços não baixaram. Sabe por que? Porque ninguém se incomoda em pagar os mesmos preços de antes, desde que possa usufruir dos produtos e serviços do mesmo jeito que era antes. E olhe só como os empresários são gananciosos. Fiz umas contas de vezes e de mais. Se eu pegar um produto em estado bruto na origem e, digamos, que seu preço seja de mil reais. Vamos imaginar que o primeiro empresário que comprasse pagasse 0,38% de CPMF, que dá uma mixaria de R$ 3,80. É claro que quem vendeu tem de pagar empregados, contas, etc, gastando logo os mil reais e pagando, também, R$ 3,80 de CPMF (nossa, ele duplica a cada transação). Aquele que comprou por mil reais, vai aplicar materiais, mão-de-obra, serviços e, como tem de pagar impostos, não pode vender por menos de mil reais. Fiz uma conta deixando que ele aumentasse em 30% pois só de impostos são quase 25%. Assim, aquilo que pagou mil reais, depois de beneficiado, será vendido por R$ 1.300,00. Quem compra por mil e trezentos paga R$ 4,94 de CPMF. Quem vendeu por mil e trezentos também tem de pagar empregados e materiais, pagando os mesmos R$ 4,94 (só não entendo porque tem de pagar CPMF sobre os impostos, os impostos não vão também para o governo? Então a CPMF é um aumento disfarçado de impostos?). Fui fazendo as contas, sempre aumentando em 30% e os dois lados pagando CPMF: quem compra e quem vende. Na sexta transação, os mil reais já valiam R$ 3.712,80. Somei todas as doze CPMF recolhidas e cheguei em R$ 48,47 que dão 4,847% dos mil reais originais. Bem, se ninguém pagasse CPMF, os R$ 48,47 deveriam ser subtraídos do preço final, restando R$ 3,664,33 - um desconto de 0,99%. Pensando bem, quem vai querer um desconto de 1%? Ora, se o dinheiro da CPMF não vai mais para o governo, fica, portanto, na economia e, sabendo-se que o PIB brasileiro é de 2 trilhões de reais, aproximadamente, temos que 1% de 2 trilhões de reais somam 20 bilhões de reais. Esse é o dinheiro que deveria ficar nas nossas mãos em 2008 (nós somos a sociedade civil, lembra?).

Não, não pode ser. Isso é muito dinheiro. Se esse dinheiro ficar nas nossas mãos a gente vai logo gastar com bobagens como comida, remédios, roupas, escola, saúde. Não, o Lula fez bem em criar novos impostos. Só depois, no finalzinho do ano, enquanto comia sua ceia de macaxeira com caipirinha, igual a minha, é que o Lula se deu conta disso. Mandou de imediato que seus amigos de longa data e que hoje estão bem empregados, bolassem uma maneira de recuperar parte dos 40 bilhões que ele disse que estava perdendo com o fim da CPMF. Criou um pacotezinho recuperando só 20 bilhões dos 40 bilhões que estava perdendo. Deixe-me fazer as contas de novo: os 20 bilhões que deveriam vir para o bolso de todos os consumidores em 2008 vão ficar com os empresários se ninguém reclamar. O Lula mandou tirar outros 20 bilhões dos bancos, dos contratos de câmbio e das operações de financiamento da casa própria. Acho que, onde antes nós pagávamos 20 bilhões, agora vamos pagar 40 bilhões. E a Globo não fala nada??? Viu como os apresentadores sempre dão esse tipo de notícia no Jornal Nacional sorrindo? E mais. O tal de Margarina, Manteiga, sei lá o nome daquele sujeito, em nenhum momento falou de mandar grana para a saúde. Deixa-me fazer as contas de novo: 20 bilhões de reais multiplicados por 10 anos, que é o tempo que durou a CPMF, dão 200 bilhões de reais. Com toda essa grana, como pode ainda ter gente morrendo por falta de hospital, médicos e remédios?

Essa alguém tem de me explicar.

Acho que o problema é que no Brasil ninguém se mexe, ninguém reclama, ninguém escreve, e, quando escreve, ninguém se interessa em ler. Ninguém está sensível!

Infelizmente, se o sujeito escreve uma crônica ou um artigo sério neste site, a freqüência de leitura é extremamente baixa. Se, por outro lado, escreve algo meloso ou, sexy/erótico, a freqüência atinge as alturas. Então, te enganei (o popular me engana que eu gosto)!

Talvez quem me lê agora prefira ler poesias melosas e eróticas. Então, para não perder seu tempo, aqui vai uma: "Vem cachorra! Vem cachorra! Pega aqui na minha mão! Vem cachorra! Vem cachorra! Vem mamar no cachorrão!" Bem ao estilo moderno, funk, de bom gosto popular e de um lirismo ímpar!

Feliz 2008

É isso aí!

Paulo Sergio Medeiros Carneiro
Enviado por Paulo Sergio Medeiros Carneiro em 03/01/2008
Reeditado em 22/01/2008
Código do texto: T801289
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.