EU OS VI

Hoje São Francisco de Assis passou por mim apressado , correu arrastando suas chinelas e levantando a barra de suas vestes , ziguezagueou entre os carros na av Paulista e adentrou no parque Trianon, disseram que ele foi acudir um passarinho que havia caído do ninho direto ao chão.

Achei bonito sua atitude.

Andando mais a frente , vi Maria , a mãe de Jesus , estava sentada no chão com uma caneca em uma das mãos e no colo Jesus Cristinho a chorar alto de fome e Maria pedia algumas moedas para seu leite comprar , ouvi alto alguém gritar : Vá trabalhar preguiçosa mulher! Pensei em até lhe dar umas moedas , mas estava muito apressada para parar e procura _las no fundo da bolsa.

Cruzei a rua e desci a Augusta , lá vi uma linda moça vendendo balas no semáforo , alguns homens a chamaram de Maria Madalena , ela sorriu e ofereceu sua mercadoria a preço mais barato, desejando vender logo sua cota do dia , sair do sol quente e voltar pra casa mais cedo , era em um cortiço ali do lado, ainda tinha que lavar os pés de seu pai idoso.

Andando mais adiante vi São José , homem pequeno e franzino , fala baixa e olhos caídos , ele estava vendendo uns carrinhos de madeira na calçada , soube que era ele mesmo que os fazia , em uma pequena marcenaria improvisada dentro de seu barraco , na favela ( comunidade ) do Paraisópolis . O dia estava lindo , as pessoas corriam entre carros e espaços de calçadas , ali tinha de tudo ,bitucas de cigarros , gomas de mascar e coco de pombo.

Na beira da rua vi um homem moribundo cheio de feridas e ataduras sujas , era São Lázaro pedindo ajuda para se levantar do chão , mas todos desviavam daquele corpo com cara de repulsa, o medo de sujar seus ternos engomados e camisas brancas era maior do que sua empatia para com aquele ser caído.

Fiquei com dó , mas segui meu caminho, estava atrasada .

No final da Augusta já chegando em meu destino uma louca correu e se esbarrou em mim, me segurando forte e pedindo socorro, era Joana D'arc dizendo que São Jorge estava atrás de seu dragão de estimação , eu ri , achei engraçado .

Enfim , cheguei na rua Estados Unidos e entrei no prédio onde trabalho .

O ascensorista do elevador, era um anão, tinha um rosto infantil e usava uma fantasia de querubim com asas já rotas e tortas, pensei : Caramba nem é carnaval mas enfim, cada doido com suas manias.

Ele sorriu pra mim e disse: Boa tarde , São Pedro já lhe espera na entrada do céu.

Agradeci e olhei o relógio , não tinha mais tempo para mais ninguém, só pra mim.

Ps. Meu texto não tem intenção de tratar personas sagradas com desrespeito , só fazer pensar o leitor que todos os dias cruzamos com eles por onde vamos , e muitas vezes estão na forma daquele irmão que não ajudamos .