Dissidente da Friendzone ✍️

Manter-me por perto faz parte do esquema inconsciente de me oferecer certa atenção e voltar a sumir por tempo indeterminado. Quando você está bem e demonstra contundentemente que não há espaço para mim entre suas prioridades. É doloroso chegar a essa constatação, mas esta será a última vez que choro por não ser boa o suficiente para sair do anonimato. Assumir seria o mínimo do mínimo, que tipo de pessoa seria eu a implorar o que você não está e nunca esteve disposto a me oferecer?

Pode ser que a sua interpretação sobre o que vivemos possua nuances diferentes. Adoraria tomar conhecimento dela, ter uma conversa franca, adulta, sem rancores ou quaisquer trocas de acusações, no entanto, você não possui esse grau de maturidade e eu também não, nem sei se posso exigir de você a atitude que também não me esforço para ter. Seria injusto demais, compreendo que parte desse impasse deve ser atribuído a mim.

Por não te entender, a ira se agiganta em minh'alma e mal posso conter os discursos inflamados de alguém que tem o orgulho ferido e nunca irá entender seus critérios. Até o fato de você me insultar seria uma reação justa, mas você demonstra uma indiferença tão grande que me sinto uma tola por ainda escrever, como se você fosse ler e se comover. Sei que você lê as minhas palavras, só não faz questão de impedir que eu desista de lutar pela nossa amizade.

Se ao longo desses anos nunca senti segurança ao seu lado, isso se deve ao fato de você sempre ir embora e me deixar com a culpa de ter dito alguma besteira. Remoer prejudica a minha autoestima porque seus critérios na hora de escolher uma mulher nunca contemplam ninguém com as características as quais possuo. São as ninfetas com traços arianos que povoam suas ilusões, inclusive, sou "velha" na concepção de caras como você, que precisam das novinhas para reafirmar um brio desfigurado.

Sempre fui intelectualmente inferior a você e não há o que eu possa fazer. Suas postagens fazem questão de esfregar isso na minha cara todo dia, pior do que qualquer "direta" que te dei, o que me chateia. Não sou tão tapada que não saque ironias, nem sou tão inocente para enxergar o mundo com lentes cor-de-rosa. Apoio à minha escrita você nunca deu, julgava ser passatempo, coisa sem valor, futilidade de menina mimada... e eu contava tanto com a sua opinião que o vácuo retroalimentou a raiva de ser ignorada.

Todas aquelas conversas do passado, aquelas longas horas de diversão e leveza, conselhos e respeito acabaram sem deixar sequer reticências e eu já nem sei mais se você me usou durante os tais "bons tempos" porque não tinha ninguém melhor à vista ou se me considerava importante, nem que fosse um tiquinho, na sua vida, a duração é fora de questão. As continuações nesse ínterim são tão abruptas que, quando me emociono com a esperança de você voltar a fazer parte dos meus dias, você já se foi outra vez.

Não posso mentir que não é frustrante nunca te ter por perto quando mais preciso de um abraço, de um porto-seguro, que você sente essa liberdade de aparecer quando dá na telha quando já me acostumei com a sua ausência. Desculpe-me se confundi as intenções, se projetei em você o carinho que ninguém nunca me deu, ou se sempre estivemos fadados a nos desencontrar não apenas online. Das outras vezes, parti porque sabia que você estava feliz com suas escolhas e não precisava mais da minha companhia.

Cheguei a sonhar um pouquinho que você enfim tinha me enxergado muito mais do que como uma simples amiga, contudo, fico aqui para juntar os pedaços quebrados do meu coração. Pode levar algum tempo, mas irei me refazer e dessa vez espero que você só volte se tiver a intenção de ficar. E não volte se ainda quiser brincar. Garotos grandes não brincam de boneca, as minhas estão preservadas na coleção.

— Releitura de um texto de 2013 o qual publiquei no Facebook para o amigo que me deixava na Friendzone e ele me excluiu. Admito que ele tinha motivos para me excluir porque o tom daquele texto era muito pesado, talvez esse representaria muito mais a pessoa que sou de verdade. Ruídos de comunicação, sempre eles...

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 15/04/2024
Reeditado em 15/04/2024
Código do texto: T8042238
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