Jesus era Deus?

Por me aventurar despreparado nesta disputa, arrisco-me a levar muitas pedradas de todos os lados. Mas, que atire a primeira pedra quem nunca duvidou, e saberei distinguir foi um santo não canonizado ou um fanático.

Diz a teologia católica que Jesus tinha duas naturezas - humana e divina - e que conservou seu corpo ao ascender aos céus. Portanto ele era Deus, com uma ressalva: era Deus Filho, distinto do Deus Criador de quem se fala no livro do Genesis. Essa teologia ignora propositalmente uma infinidade de textos antigos que a alterariam, e joga na vala comum do Index Librorum muita gente séria e bem pensante e pesquisante.

Natureza humana é um conceito inacabado mas de fácil acepção. Já a natureza divina é um mar sem fim de mistérios onde apenas a Fé dá algum rumo ao navegante. A expressão natureza divina é, como se diz em Filosofia, uma polissemia; portanto quem a ela se refere tem que saber que poderá ser interpretado de forma diversa da desejada.

Isto posto, posso dizer que eu, ser humano do planeta Terra, também tenho algo de divino em mim, portanto tenho as duas naturezas, como Jesus, guardadas as devidas proporções. Você pode retrucar: é bom mesmo você guardar as proporções, porque o teu divino é xing-ling, não torna você um deus.

Outro detalhe: ouvindo da boca de um fiel cristão, das palavras que ouço eu entendo que a natureza divina era intrínseca à pessoa de Jesus. Por outro lado, há quem diga que a tal segunda natureza encarnou-se no homem Jesus aos 30 anos, quando ele assumiu a missão de apresentar ao mundo a "Boa Nova". Essa natureza divina tratava-se do Cristo cósmico, uma força supranatural de altíssima hierarquia espiritual representada em religiões anteriores e/ou paralelas à dos descendentes de Abraão como "Mito Solar", uma "energia cósmica" doadora por excelência, que fecunda e gera a vida.

O Cristo cósmico seria então, uma espécie de hospedeiro em Jesus, diferente de dizer que Jesus era o Cristo, mas na prática dá na mesma. Se o homem Jesus era um Deus ou o hospedeiro temporário de uma divindade só muda o poder do discurso religioso sobre pessoas de intelecto mais simples, aqueles que não conseguem aceitar nuances do pensamento (pão é pão, queijo é queijo, não existe sanduíche).

Jesus então era Deus, o Filho, o Cristo, tanto que ressuscitou o próprio corpo falecido e com ele ascendeu aos céus, mas há quem diga que Jesus não ressuscitou porque não chegou a morrer, foi colocado em uma espécie de catalepsia por ciências médicas da ordem dos nazarenos, seus irmãos de fé, para sair do sepulcro são e salvo, mostrar-se aos discípulos, complementar seu missão e garantir que os discípulos se tornassem apóstolos, para depois, por fim, ir viver sossegado em Katmandú, onde haveria o túmulo de um judeu chamado Yeshua.

Nessa hipótese, descartadas as possibilidades da Fé, chegaremos à conclusão de que a divindade de Jesus é apenas retórica, a menos que demos à palavra divindade uma conotação diversa.

Mas... resta a minha pergunta:

Se Jesus, o nazareno, o Cristo, não era Deus, era apenas divino como eu, você, o morador de rua usuário de crack, SUA MENSAGEM, contida no seu discurso e no seu testemunho, especialmente o enfrentamento da morte em uma cruz romana, o seu legado passa a ter menos valor para a história e a evolução da Humanidade?

Abençoado é quem tem verdadeira fé, mas e eu, que gosto de pensar, que cultivo o meu intelecto, não sou também filho de Deus, como Jesus, guardadas as devidas proporções?