PACTO COM O SILÊNCIO

Pacto com o silêncio

No tempo prematuro fiz um pacto com o silêncio cujo a intenção primária era me camuflar dos fatos e acontecimentos decorrentes da minha própria narrativa substancial no qual considerava com êxito essa relação vitimista ao meu derredor

O contrato consistia em:

Sorrir sem gargalhar

chorar sem soluçar

andar sem barulhar

cantar no sussurrar

Falar? Não. Gesticular

Seria hilario alguém concordar com todas essas exigências porém na minha concepção foi quase como um impulso ou atrevimento de aceitar o silêncio como parte de mim.

Com o passar do tempo deixamos de lado todas aquelas formalidades contratuais e nos tornamos amigos de fato, nós brincávamos e conversávamos em silêncio é claro.

Nossas atribuições e considerações sobre a vida eram empaticas, bastava um olhar para indagar ou responder qualquer coisa.

No decorrer das entrelinhas de minha existência o silêncio tornou-se assíduo e espontâneo. No qual diversas vezes no contexto social já não era preciso responder mais nada, apenas linguagens gestuais.

Com ele aprendi a guardar segredos ser amigo confidente, me conter, me interiorizar, entendendo que as vezes o silêncio é a melhor resposta.

Quando a mocidade veio me visitar o silêncio ficou com ciúmes ele ainda queria ser o protagonista principal do meu coração. Pelas tantas fui me afastando dele enforçando-me para abdicar do meu rótulo de menina muito quieta.

No meio do processo eu mesma não aguentei e voltei correndo aos prantos para meu fiel e verdadeiro amigo abraçando-o como nunca e desejando que aquela amizade perdurasse para sempre.

E assim nasceram histórias, poemas, músicas que cabiam somente ao silêncio testemunhar. Na certa algo muito valorozo estava nascendo daquela união.

Mas houve um tempo em que senti a ausência de algo no qual não conseguia assimilar, tampouco explicar e foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. O silêncio falou comigo pela primeira vez!

Falava tão baixo que mau dava para ouvir na sua voz serena suavizava que eu precisava de expansão e que aquele círculo feito só de silêncio não era o ideal.

Me revelou que o mundo era muito maior e que eu deveria abrir as janelas do meu ser para experenciar novas emoções.

Me surpreendi com meu amigo, no final ele me abraçou e disse que estaria ali sempre que eu quisesse voltar para reve-lo.

Patrícia Onofre
Enviado por Patrícia Onofre em 24/04/2024
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