O fã de rock progressivo é um contemplativo em potencial

O rock progressivo é uma vertente do rock que surgiu no raiar dos anos 1970 e se propôs a fundir estilos musicais. Naquele tempo, a indústria fonográfica ainda não se consolidara, estava em seus primórdios, e tanto os artistas quanto os empresários eram pessoas bastante jovens e com muita vontade de fazer algo diferente, isto é, fazer algo de qualidade e que sobrevivesse às modas. De fato, é o que aconteceu, essa vertente do rock deixou um legado distinto e que tem se mostrado duradouro, embora, hoje em dia, seja tipo por ultrapassado. Só pessoas de especial disposição se voltam ao que é de qualidade, relegando a novidade.

Com frequência, os conjuntos musicais progressivos buscavam inspiração na música erudita e compunham sequências instrumentais muito belas. Foi o que me chamou atenção logo no início de meu contato com esse tipo de música. Eu já gostava da chamada "música clássica", só que por ser muito jovem, não conseguia ouvir somente músicas do passado (distante). Assim, o rock progressivo acabou sendo um porto inevitável na busca pelo "sentido maior" das coisas.

Música bela não quer dizer apenas combinações bonitas de timbres de diferentes instrumentos ou engenharia de som excelente. A concepção das músicas precisa abrir ao ouvinte a porta para algo mais verdadeiro, perfeito e puro. Algo que tire o ouvinte do "aqui e agora" e de si mesmo, e o aproxime do que é sublime.

O rock progressivo tem muito do "algo mais" que uma pessoa insatisfeita ou "ambiciosa", por assim dizer, procura e espera encontrar. Não poucas passagens instrumentais do rock progressivo colocam o ouvinte mais exigente num estado mais pensativo e reflexivo, e mesmo o inclina para estados interiores de oração e contemplação da Verdade, além, é claro, de proporcionar uma fruição mais qualificada da beleza e da arte musical. Alguns dos conjuntos que produziram algo assim são Genesis, King Crimson, Gentle Giant, Tangerine Dream, Yes, Marillion, The Moody Blues, dentre os principais. Seus músicos possuem uma perícia técnica que está bastante acima do normal para o gênero rock, tanto quanto sua disposição para colocar temas filosóficos, espirituais e literários em suas composições.

Entretanto, enquanto se desfazem impressões equivocadas a respeito de uma vertente do rock, não deixa de ser preocupante que o majoritário dos fãs de rock progressivo seja (ou tenha se tornado, por conta da música) agnóstico ou, mesmo, ateu. E não é totalmente surpreendente que mesmo uma versão melhorada ou superior de rock não escapa de incutir uma tendência ruim em seus defensores.

O perfil do admirador do rock progressivo, no mais das vezes, é o de pessoas inteligentes, que gostam de estudar, cultivam sua vida interior com o belo, é pensativo, reflexivo e, não raro, antissocial. Ou seja, são tendências boas, se estiverem acompanhadas da sincera conversão à Verdade do Deus que se fez Homem no ventre da sempre Virgem Maria e veio aqui nos salvar dos pecados, do inferno e das heresias. Esse ponto é o mais delicado, e o mais crucial. Sem a Verdade revelada por Deus através de Nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo, o fã de rock progressivo se resumirá a uma pessoa que tem um gosto musical diferenciado, alguém intelectualmente acima da média, provavelmente bem sucedido na profissão e no financeiro, com um cabedal de referências maior do que o vulgo, mas somente isso. Isto é, será um soberbo e presunçoso fechado em seu nicho cultural específico, falando para outros "iniciados" como ele, consumidor ávido de relançamentos de LPs e memorabilia de bandas musicais e shows, tendo como religião e hobby certos artistas e LPs, porém, será somente isso.

Existe um orante eficaz, um intercessor forte, um precioso contemplativo dos Mistérios revelados por Deus, em embrião, no fã de rock progressivo - tal como acontece com o filho adolescente de 14 anos de uma psicóloga que conheço e mora em Jundiaí. E a pobre mãe se encontra muito aflita com o comportamento do filho. "Ai, estou muito preocupada, não sei o que fazer ou esperar do menino...". Quando perguntei o que ele tem feito, ela me disse, se sentindo muito alheia àquele universo pessoal do filho. "Ele é muito fechado, não gosta de falar, não tem traquejo social, se tranca no quarto dele e fica ouvindo King Crimson por muito tempo." Ao ouvir isso fiquei contente, fiquei muito contente na verdade e disse à atarantada mãe que são ótimos os sinais que o filho dela apresenta. É muito bom saber de alguém que tem exuberante vida interior desde cedo. Mas fiz a ressalva de que é preciso que ele não fique sem boa orientação no tocante a Deus e à salvação eterna da alma. É necessário que ele conheça a Sã Doutrina Católica para não se resumir a um "geek de música" na vida.

E esse é o ponto mais difícil. Só mesmo com grande graça de Deus um fã de rock progressivo pode se converter. E mesmo assim terá ser por meios diferentes do usual. Dificilmente um apelo a que "leia a Bíblia" vai soar bem a um fã desses, ainda que ele seja um leitor qualificado. Dificilmente um grupo de "Fé e Política" paroquial vai atraí-lo, ou mesmo um Grupo de Oração carismático. É preciso lembrar que uma pessoa com vida interior intensa sabe valorizar o silêncio, e se sentirá deslocado numa reunião de tipo pentecostal. O catolicismo tradicional é a melhor via para ele, só que esses grupos estão enfraquecidos e isolados ante a iníqua perseguição que os maus eclesiásticos têm feito à tradição católica.

No caso do adolescente em questão, sua família é indiferente à religião, e tem um perfil que valoriza muito o ser "moderno" e o que é "científico". Ou seja, a situação dele é complicada. Os pais não vão incentivá-lo a buscar as fontes da verdadeira religião. Talvez a mãe, por ser "moderna" e psicóloga, poderia estimulá-lo a buscar alguma religião tendo em vista somente o aspecto social, de inseri-lo num "grupo de apoio", que lhe satisfizesse as necessidades psicossociais. Porém, a verdada é que tanto esses pais como o rapaz precisam ser salvos por Deus. Só que, por enquanto, não atinam com o pecado, a necessidade do arrependimento e da graça sobrenatural e de Nosso Senhor Jesus Cristo no centro de suas vidas.

Que Deus tenha piedade dos fãs de rock progressivo, e Nossa Senhora insista em chamar os contemplativos em potencial para a Santa Igreja. Afinal, tanto a igreja quanto a sociedade precisam de pessoas de forte vida interior, de oração e de contemplação. Igreja e sociedade precisam urgentemente de pessoas com um perfil tradicional católico, que é sinônimo de católico bem formado e bem convertido.

Rafael Aparecido
Enviado por Rafael Aparecido em 08/05/2024
Reeditado em 09/05/2024
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