Um Poema Inspirado do DSM-5

Deve ser loucura definir algo dizendo aquilo que ela não é

Afinal, por que não dizer logo do que se trata sem enrolação?

Talvez aí esteja o devaneio, o delírio de se dirigir a quem não o vê.

Mas aí não seria uma alucinação. Ou seria uma alucinação com uma lucidez que ali não se encontra.

De se ver invisível para aqueles que você vê e ainda assim o vê mais que ele mesmo.

Não há lucidez para o louco, mas há lucidez do louco: incompartilhável e solitária.

Tudo começa com um simples problema:

Aquilo que a loucura mostra para quem não é louco.

Aquilo que mostram para o louco quando revela sua loucura:

Aqui começa outra loucura da dor evitável e inevitável.

Aqui ele já é um paciente de saúde mental medicado e estabilizado.

Não é loucura muitas coisas que para o louco são incompreensíveis:

Ser tantas pessoas diferentes e contraditória para cada um,

Contradizer tudo o que for preciso, inclusive a si mesmo, exceto a própria vontade.

Fingir valores, vestir-se de indignação, de atitude e de heroísmo por algo que será logo descartado ou vendido.

O amor que destroi, a gentileza que esconde a punhalada pelas costas e a destruição da honra de outro.

As verdades que se balizam e se lastreiam na próprio desejo: mudam, se transformam se contradizem e convivem.

A verdade implantada no outro para o convencer de quem ele é ou de quem ele não é: o que se quer que seja.

A verdade de ontem, a bondade de hoje e a amizade atual: alucina-se e delira-se o outro até que este se renda.

A loucura é tudo aquilo que não se justifica, daí se entende muita coisa sobre quase tudo que defendemos e principalmente com aquilo com que nos defendemos.

É loucura, portanto:

Ser autêntico, agir como se os seus valores não fossem meros meios para ser aceito, confiável e validado.

Tomar decisões que causarão repulsa, incompreensão e isolamento social.

Ser incompreendido hoje é quase uma desonra, uma condenação ao nada.

No esforço de sermos compreensíveis pelos demais, nos tornamos incompreendido por nós mesmos:

nisso reside uma das maiores e ainda pouco estudadas formas de loucura.

Não é que o louco seja ou deva ser santificado por sua loucura, pelo contrário: é que sua loucura seja admitida como tantas outras formas de loucura por aí. Que não seja confundida com o crime, ainda que nesse haja alguma loucura, afinal temos a loucura em quase tudo, basta que entre nós e outro haja um muro, uma cela e uma camisa de força no pior lugar possível: na mente do louco e na mente do que não se acha louco.

O louco não quer ser anjo ou quer ser, não importa. Ele só quer querer como qualquer outro na condição humana quer. Todos pagam o preço pelo que querem e principalmente pelo que não querem, o louco é o que mais paga por aquilo que quer com aquilo que ele não quer.

A essa altura, já não sabemos mais o que é loucura e o que não é. Já não estou certo do que chamo de loucura ou do que chamo de loucura, afinal de acordo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)há mais 300 transtornos mentais classificados. Qual daqueles chamaremos de loucura de verdade?

O texto completo se encontra disponível em sua mente, pensamentos, transtornos, déficits e diagnósticos e principalmente

na cabeça dos que se acham sãos: que são os que separam a sua loucura da loucura do outro, pois sabem melhor de muros e fronteiras que precisa delas.

Para o 18 de Maio e Para Todos os Dias

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 12/05/2024
Reeditado em 21/05/2024
Código do texto: T8061674
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