Me vejo sozinha jogada em um quarto escuro e por um momento perco o rumo da conversa que se está desenvolvendo à minha volta. Vozes transformavam-se em urros atemorizantes, sorrisos em rostos ferozes à procura de devorar o que restava de minha consciência.
 Mas a final, o que resta de minha consciência? Será isso, esse resto de consciência que me mostra a verdade do que sou e dos que estão à minha volta? Essa mesma que inciste em me falar de solidão, de medo, de mentira?...
 Perder a consciência ou ganhar a liberdade? Por vezes o processo é tão dolorido que a confusão nos engole; Carrascos libertando, salvadores dando ditados.
 O que fizeram de Deus? Religião. O que fizeram de mim? Escravo? De mim mesmo, dos falsos preceitos, da religião? Aqui cada um escolhe o presídio, dentro de certos rígidos controles. A sentenca é sempre perpétua, mas sei de alguns poucos que dela recorreram e libertaram-se ao fim da vida.
 Fim da vida? Porque? O que é fim? O que sei? Que certezas tenho? Quais crencas? Creio? Perguntas demasiadas enquanto ouco vagamente alguém pronunciar-me o nome. E essa dor que vem não sei de onde...
 Viro-me, percebo que mexo a boca e vendo o rosto que olhava-me virar-se percebo que devo ter respondido a algum questionamento. Como a vida é irônica; eu, presa nesse quarto escuro cumprindo uma pena perpétua, perturbada pela falta de respostas posso discursar minutos a fio sobre os benefícios da cirurgia plástica, os efeitos da globalizacão,etc. Como sou inteligente! Como sou importante! 
 Já faz muito eu desisti de ir em busca de respostas. Aqui nesse quarto escuro eu fico respirando dificultosamente enquanto ouco os anseios do meu coracão pedindo o alívio da morte. Mas nem nisso posso esperar com fé, afinal, quem sabe o que quer que seja sobre a morte?
 Deixo cair uma lágrima há muito tempo segura e sinto uma mão em meu ombro. De alguma forma todos os meus amigos haviam saído e me vi só. Não pude ver o braco, mas a mão continuava fazendo-se sentir lá, em meu ombro. Levantei a cabeca como que à procura de alguma luz e era novamente dia, o sol brilhava e com um sorriso eu empurrei os monstros para dentro do armário e decidi tentar exorcisa-los em qualquer outra hora...
 
Monique Freitas
Enviado por Monique Freitas em 15/02/2008
Código do texto: T860915
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