Senso Incomum

As palavras estão sumindo junto com o tempo. O corpo e os órgãos é que armazenam as fúrias e rebeldias da mente. A boca vai ficando calada. Silenciosa, fechada. Falsamente ideológica. Tudo que se escuta não é mais digno de ser absorvido. Ou de ser confrontado. Às vezes simplesmente não vale a pena. Às vezes não queremos ver o outro lado. Então o julgamento chega do lado de fora; E a insípida e gritante claridade da estupidez alheia fica do lado de dentro.

A inteligência é relativa. Filosófica, irreal. Alguns pontos de vista não podem ser exprimidos em simples saídas de ar. Tomar fôlego, respirar fundo. Ouvir, ver, sentir, assimilar, dizer... Calar. Conclusões, pensamentos. Que não são dignos, e muitas vezes nem possíveis, de ser dilacerados ao paladar de quem ouve. À mente de quem é movido automaticamente, e apenas emite (re)gravações.

Tudo que me rodeia, todos as verdadeiras palavras e os meros sons. Conseguir enxergar a preguiça do cérebro humano saindo pelas bocas... Pelas mãos, pelos gestos, pelos cantos. A preguiça de entender o mundo em que vive. E com isso, surge a podridão. A intransigência, a ridicularização. É desestimulante ensinar a pensar. Ou tentar mostrar mais que a superfície; Para quem não quer enxergar. Para quem não quer entender. Portanto que pensem o que lhes convém.

Tudo que está em minha mente urge, troca, grita, move, influencia, absorve, distingue, filtra, arde, dói, bloqueia, salva, mata, muda... Então as palavras, as idéias e as indagações saem de mansinho... A cada letra interditada na garganta. Correndo pelas mãos, estômago, coração, saliva... Saem devagar, frias, sem som, desconexas, num papel qualquer a deslizar.

Apenas com o poder de serem verdadeiras. Pois o pensamento é a prova de que tudo que é livre e grandioso torna-se eternamente encarcerado.

Beatriz Moraes
Enviado por Beatriz Moraes em 22/03/2008
Reeditado em 19/05/2014
Código do texto: T912013
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