Para falar de flores

Noto uma alteração um tanto alarmante nos meus escritos e até na minha personalidade. O fato ocorre provavelmente por um amadurecimento profissional que está acontecendo de forma gradativa, há um comprometimento enorme com o trabalho - formar a opinião pública, dos ignorantes deste imenso mundo, não é fácil. O pior é este sentimento de acreditar que temos uma importância maior para o mundo por entender coisas óbvias e que no fundo é uma subversão da realidade – quisera um dia ser a razão das decisões políticas por um dia.

Passada esta fase de explicações desnecessárias, quero externar e compartilhar um fato inusitado e até surpreendente que me desprendeu deste regramento ilusório da vida moderna pelo menos por alguns segundos. Ocorreu há cerca de uma semana, mas os detalhes ainda estão nítidos – afinal é interessante lembrar de coisas aprazíveis, principalmente demonstrações públicas de carinho e amizade. Pois bem, dia desses, em meio à magnífica e contagiante rotina do trabalho – realmente é assim que encaro o dia-a-dia, como um conjunto de desafios empolgantes cada um mais que o outro – quando uma amiga, sem que eu percebesse mudou o rumo do meu humor pelo resto do dia.

Ainda não contei o que aquele anjinho fez para tudo parecesse menos pesado, menos trabalhoso, talvez para criar um suspense, talvez porque pareça algo tão simples – mas quem disse que a beleza não está nos pequenos detalhes, na verdade acredito que esteja. Ok, chega de enrolação – foi um beijo, um pequeno e rápido beijo em minha face acrescido de um sorriso meigo e de inexplicável beleza poética. Um beijo que fez o dia servir para eu falar de flores, e parar de pensar nos espinhos. O curioso é que não ficou só naquele dia – agora lembro daquele beijo e estou escrevendo de flores.