Palavras

Palavra que me foge pelos lábios,

por vezes, impulsiva,

distraída ou repensada.

Palavras que soam a falso

ou vistas num espelho

são o modo ondulante

ou enterrado de dizer isto.

E isto não tem de ser dito.

E basta observar alguém

de quem se deseje retirar

a palavras que define o segredo.

A palavra,

amontoado de símbolos,

exprime a doença do Homem

e o esquecimento de tudo

que é reflectido

na água límpida,

clara, como os olhos carvão

do conhecido,

do adormecido na letra

desenhada por ninguém

e escrita por todos,

com a caneta invisível,

na mão amputada.

A palavra reprimida,

não ouvida, não falada,

nada tem a dizer

senão a letra inventada

e acostumada com o ser.

A palavra que nada esconde em si,

nem mais o prazer, a dor,

nada dá, nada tem.

28 de Agosto de 2003