“SOU AINDA UM ANDARILHO”.

Acho que sou...

Ainda um andarilho,

Que percorro o mesmo trilho,

Sem parada e sem sossego.

Então eu vou...

Andando estrada a fora,

Não tem dia, não tem hora,

Caminhando sem ter medo!

Às vezes sou...

Paciente e destemido,

Tenho sempre como abrigo,

Os espaços que me cercam.

Nas longas horas...

Das infindas caminhadas,

Pressinto as pernas cansadas,

Tendões e juntas me secam!

Assim eu sigo...

Em frente pelo instinto,

Pra ninguém conto o que sinto,

Vou cumprindo essa jornada.

Mesmo abatido...

Sigo aqui em silencio,

Às vezes sinto-me suspenso,

Na vida por mim traçada!

Até confesso...

Que eu não pretendia,

Levar a vida assim vazia,

Sem ter onde repousar.

Mas o porém...

É que esse meu destino quis,

Que assim me sentisse feliz,

Pelo mundo a caminhar!

Mas ninguém sabe...

Que em todas minhas andanças,

Vai-se amontoando lembranças,

Que consomem os meus sentidos.

Pés doloridos,

Por calos feitos na estrada,

Das alpercatas rasgadas,

Nos quilômetros percorridos!

Até parece...

Que persinto o velho tempo,

Ao pernoitar nos relentos,

A me molhar o semblante.

Fico a sentir...

As cotículas desse orvalho,

Molhar-me os cabelos falhos,

Deixa-me o corpo dormente!

Fico a olhar...

As diferentes paisagens,

Que me transmitem mensagens,

De um belo entardecer.

Assim ressurgem...

Imagens até esquecidas,

De quem se gastou na vida,

De incontáveis amanhecer!

E prosseguindo...

Vou desgastando a visão,

Minha sorte e meu quinhão,

É caminhar sem parar.

Mesmo aprendendo...

Que enfim o meu caminho,

Tem menos flores que espinhos,

Proíbem-me de sonhar!

As minhas rugas...

Amontoam-se cada dia,

E a paz se torna agonia,

Ao sumir os moedores.

A voz potente...

Transforma-se em baixa e roca,

Os dentes falhos na boca,

Afastou-me dos amores!

Olhos cansados...

Pele grosseira e enrugada,

Pelo sol das caminhadas,

A queimar-me piamente.

Vou convivendo...

Com temores e desafetos,

Tendo o meu destino incerto,

Que pondero vagamente!

Em minhas mãos...

Que já tem pouca firmeza,

Que não me causam surpresas,

Pois são frutos da idade.

Que firme avança...

Em tonalidades desbotadas,

De uma vida mal amada,

Sem deixar posteridade!

Sinto no rosto,

Tantas rugas que aparece,

E o meu olhar escurece,

Neste oficio de andarilho.

Posso entender,

Já no fim dessa jornada,

Que na longa caminhada,

Está findando sem brilho!

Levo comigo,

Gama de farta experiência,

Que já fogem sem clemencia,

Atrofiando a memoria.

Mesmo abatido,

Tento de todos esconder,

Esse meu desregrado viver,

Contado por minha história!

Já se aproxima,

O dia de minha partida,

Dessa mal afortunada vida,

Que trilhei sem fazer festa.

O que me resta,

Ir embora sem heranças,

Sepultando as esperanças,

Do pouco que ainda me resta!

Deixo descrito,

Nesses relatos simplórios,

E em nada mais comemoro,

Pelos trapos que me envolvem.

Em cada passo,

Que gastei nesses caminhos,

Como um pássaro sem ninho,

Imbuído no fracasso!

O que me sobra,

É depor minha frágil vida,

Que foi por tantos condoída,

Por tantos dias de luta.

Estou entregue,

À sorte de todo homem,

Que a triste morte consome,

Em verdade absoluta!

Cosme B Araujo.

12/01/2022.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 12/01/2022
Reeditado em 12/01/2022
Código do texto: T7427807
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