Missa do Galo

A noite desce os negros panos plácidos

E o hino dos amantes refloresce o espaço

Do ritmo ideal ao languido compasso

Busca o poeta a comunhão de abraços.

Mas som plangente vem fendendo os ares

Com suaves bisturis de voz do Vaticano

Para ouvir a prece em ouro,a prata dos luares

Se inclina crente --redivivo arcano.

Hora sublime!Quem acaso chora e clama,

Que padece ,quem é fel de círio em dor tornado

A esperança reascende nesta hora soberana.

Morra na ideia a triste argila do pecado

Que converter pudera quem mais ama

Em ansear por impotência vã toldado.

Hordas de anjos abrem os portais do infinito

Pelos humbrais do firmamento se anunciam

A expressao forja cantares em granito

De crenças alvas, que anunciadas principiam.

Amanhecer do coração..tu que entre louros

No horizonte do olhar,na alma do proscrito,

A aurora vasta ergueste em púlpito de ouros

Indo beijar a alvorecida fronte do infinito.

Em missa flava já desdobra as plumas

Com que a amplidão do Ser de amor povoas,

Dilui dor e a incerteza dessas brumas.

Amanhecer do coração...que importa é noite escura?

Tambem ,oh astros!, o frio negror coroas,

E sois contudo a seta ,o dia da vida futura.

Reverdece nessa missa cristalina

Oh alma ao choro e a profundeza afeita

Vibra alva nessas canções de musselina

Grande êxtase estrelar de filha eleita.

Canta,e sê sonora, sê harpa e lira fina,

Tu, que um dia o mundo viste em densa treva,

Hoje translucida ,pura,clara,e divina,

Alma minha, o pensamento em luz eleva.

Sobe aos clarões da sideral resplandescencia

E com ternura cisma,sofre,sente,sonha,

Tu que sorristes na sidérea florescência.

Livre de um mundo que só tem pessonha

Segue esta fé de clarins e transcendência

E unge-te no balsamo azul que te acompanha,

A noite augusta em estreladas cismas

Verte em profusa paz o amor e a calma

Em berço ideal,nesse embalo de carismas

Do coração,cresce em fulgor,oh alma!

Tu que uma data, que lá leva o pensamento,

Triste sentada ao pé do rochedo,isolada

Tu que sofreste anátemas,degredos,

Da tua vasta fé verte a canção sagrada.

E vê se por penas, chagas e agruras,

Enfim em balsamo ideal não te purificaste

No leito angélico, sacrossanto das ternuras.

Tu que o paraiso em vão no corpo teu buscaste

Sobe,evocando em tuas preces nas alturas

Gritos rejubilados que em prantos ensaiaste.