A Orgia e o proscrito.

Que alegre vale tudo,as vossas vidas.

Da liberdade bebeis a gota derradeira

E amais de verdade vossa companheira

E o corno não perdoais das mais garridas.

Apartado, por obra de imorais,

Na praia solitária,sem osculo nem lei,

Contemplo a festiva,amorosa grei,

Trespassado de dores materiais.

Minha solidão, injuria afrontosa,

Sofro entre as dores das chagas cruéis,

Roubam-me até as idas aos bordeis

Como do amor a comovida e alta rosa.

Sem a mais leve piedade por meu triste estado

Sedento entre os banquetes mananciais

Avançam os senhores das nações

Em orgiados banquetes triunfais.

Do poeta o santo cálice roubando

Quem dará a poesia ao novo mundo

Para a gloria perpetuar de suas obras?

Se do banquete não restam nem sobras?

Esse trai a amada de seus anos sorridente

Enquanto ela o paga com infâmias

E ao fim de lúbricas e sensuais façanhas

Moralizam o filho com zelo ardente.

Que restará ao fim dessas jornadas

Senão a vaga ,leve e doce lembrança,

De um mundo de bocetas e adagas

E a morte por soar sem outra esperança?

Gozar o possível libérrimo e ousado

È tudo quanto quer o vivente esclarecido

Enquanto houver tempo fazer-se amado

Que destino fatal é tombar falecido.

De que tanto vos alegra perversas vinganças?

Cavalo de batalha de tempo perdido.

-- sou ditoso de haver cometido

O dano do inimigo com intemperança—

Oh humanidade,vale tudo moralista,

Como vos devorais, sôfregos e vãos,

E quão pequena cota dais ao artista

Que colore o desenho nu de vossa solidão.