A prece dum satanista.

Castelo das ilusões

Que resta, enfim?

O perdão do ruim?

Gloria ufana dos bons?

Havemos cometido

Todo possível insulto

E chorado nosso luto

Sem bondade, atrevidos.

A criança no berço

Agredimos outrora,

Antes como agora

Rezando nosso terço.

Nossa prece pagã

Dada ao diabo atoa

E a quem quer que doa

Roubado o amanhã.

Alegres côa infâmia

Com arrogância tamanha

Espalhamos a peçonha

Entre possíveis amantes,

Nossos crimes constantes

Contra indefesa pessoa

Renovamos agora

No horizonte agônico

Do lírio da hora.

O pranto nos é cômico

Do inimigo atroz

Nossa garra feroz

Nosso poder icônico.

E agora que nus

De defesa qualquer

A morte e sua sanha

Nos diz que nos quer

Sem clamar por piedade

Ou conforto soberano,

Sem rogar humanidade

Do supremo patrono,

Ébrios de nosso ódio

Sem nem leve caridade

Lamentamos não poder

No dano persistir

Do homem odiado

Que a vida há de seguir

Vivo e escapado

Do dano mais terrível

Que pudermos inflingir!

Oh gana de morrer

Sem o dia alegre ver

Onde capado, o sacripamta,

Role prostituido

No poder instituído

Na multidão de gigantes.

Oh mundo que nos acusas

De sermos desnaturados

E ásperas leis usas

Contra mínimos pecados

Mundo obtuso e vão

O quanto nos deveis!

Um dia vos domaremos

Com nossas forças cruéis.

Então a humanidade

Por nós rojada ao solo

Há de gemer restrita

Sob a mão bendita

De satã no colo.