A SEDUÇÃO E PERDIÇÃO DE UM AMOR PERDIDO

Não me espere em um corcel enfeitado

nem muito valente,

quando te conheci,

fui incorporado num vagabundo,

num palhaço, num artista,

num sonhador, num poeta rebelde e atrevido.

Desci das nuvens como um relâmpago,

iluminei teu quarto escuro com a luz dos meus olhos,

com a força do meu coração,

com a tenacidade do meu amor,

com o denodo de quem investiga uma necessidade.

Desprovido de orgulho e livre dos preconceitos,

tomei todas as estrelas do céu para te vestir,

mergulhei no mais profundo oceano

para pescar a mais linda pérola,

a fim de ornar teu pescoço ferido pelas

mordidas dos morcegos.

Calcei-te com a túnica do meu próprio corpo,

transformei o meu suor em sumo curador,

em perfume suave para derramar em teu corpo.

Naquele dia a Lua estava cheia,

mas quem estava enluarada era você;

pude sentir meu coração ser ungido com o mel dos teus beijos,

o teu abraço me envolveu como uma mãe abraça o rebento,

apenas não sabia onde se dava o processamento da cicuta

mortífera que hoje denigre e desdenha o cordeiro da tua mesa.

Em quantas carruagens andastes?

Em quantos lençóis te agasalhastes?

De quantas bocas te roubei?

Em qual dança te fiz tropeçar o passo?

(Os nossos passos eram perfeitos)

Todos os aparamentos do meu cavalo aventureiro

estavam prontos e firmes para te levar;

desbravamos os mistérios do amor,

navegamos em rios e mares, em águas bravias estivemos,

quase naufragamos nas procelas que nos seguiram,

fomos procurados e torturados pelo poder dos piratas da noite,

mesmo assim, prosseguimos na doce aventura de conhecer

os mundos ocultos de ambas as naturezas.

Eu, um sonhador,/ você, uma cinderela à procura dos sapatos perdidos.

Minhas botas foram teus pés,

os meus rios de amor, tua sede,

tua carne, teu corpo, teu sangue, teu sorriso, teu choro,

tua cor, teu cabelo, tuas curvas, tuas coxas, teu ventre,

tua língua. Tudo, tudo que que te pertence foram para mim

os mantras, as súplicas, a glória, o alvo de um caçador de pérolas.

Por que tenho eu de amar um amor que deixou de ser meu?

Por que tenho de ajoelhar-me diante o desdém que experimento por haver conquistado a vitória de uma guerra

tão sangrenta, dentro desse campo onde a concentração

mais me parece ter sido um soldado vencido?

...

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 12/10/2015
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