O Gosto do Inferno
O demônio da luxuria me domina.
Sem saber se quero ou não quero
Assemelho passionais prostitutas
Atadas ao corpo dos mil desesperos.
Pobre contador de míseros amores
Amo a lua e amo a sombra e os delírios
Mas o vórtice me frustra os puros lírios
Colecionador a quem pouco importam as flores;
Mata-me a orgia e em seu beco depalpera
A luz do sol e a harmonia do silencio
Mesmo o Amor é a luxuria uma quimera
No mundo se trepa muito pouco. Que suplicio!
O que me avilta acaricio com desvelos
O que me embrutece é senhor incontestado
O vicio procura e se nutre em meu estado
A morte oca se alenta em meus desesperos.
Mortal carne: Baudelaire,Ovídio e Dante
São irmãos da minha sórdida grandeza,
Alheio ao belo tropel da ufana correnteza
Mergulho no ocaso torpe do beijo aliciante;
A treva geme condenada,esquecida no descaso,
As entranhas tenho fatais como descaminhos
E o pior marinheiro se alegra em meu espasmo
E ao puro amante gozo em perpétuos espinhos.
Sou a arregaçada puta sem nome
O desejo misero sempre manipulável,
A perdição me tatua seu pego informe,
Sou a grande desolação carnal do homem
O gosto do inferno, o servidor do detestável.