ALMA CLANDESTINA
Eu sei que minha pele está fria,
que meus olhos pedem para ver o chão.
Eu quero que você saiba o quanto estou frio,
não sei se o amanhã trará de volta o brilho de antes,
que direi se meus olhos não se levantarem,
que serão dos meus passos, eles terão um caminho?
.
Você não precisa dos meus braços, do meu corpo,
do meu coração, porque tudo é passado,
tudo foi ilusão, um jogo, a sorte que lançaste ao vento.
Você acredita em si mesma, como se todos os demais
fossem mentirosos, e você conhece a mentira tão bem.
.
Quem lhe dirá aonde estarás indo?
Você não precisa de ninguém?
Sei que você aprendeu a ler sob a luz de um farol,
havia muito azeite, a luz apontava o caminho.
Quando vi a sombra por trás dos seus olhos,
era tudo um tom de giz, um neon fraco e tímido.
Você perdeu a bussola, a base do farol ruiu,
mas você não precisa de ninguém!
.
O tempo lhe ensinou à margem dos bons costumes,
à margem da história, dentro de um caminho
ardente e febril, nem sempre seu vício pedia calma.
Os ventos fortes também ensurdecem,
nem tudo que reluz é ouro, mas você acreditava,
e confiava, e se entregava, sem perceber que o cego
não conta com a luz.
O cego tem tato, você tem olhos de Águia;
sabe voar alto, mas não sabes escolher a caça,
prefere o veneno. Você vai onde o vento sopra.
Você crer no que é palpável, eu acredito nos sonhos,
acredito no amor. Você esqueceu a seringa,
dando lugar ao esquecimento.
Não quero ver você chorar, tudo isso não é um adeus,
é um esquecimento de corpos, o seu coração sempre
estará no mesmo lugar, no mesmo jeito de querer e desejar,
nos olhos de todos, isca jogada no mar das suas ilusões.
...
Pedro Matos