SAMBA DA VALSA PERDIDA
quando bateu a meia-noite e apagaram-se as luzes
Camila não apareceu
chamaram-na pelo microfone e escutou-se um silêncio constrangido
seu namoradinho suou frio e gaguejou bobagens como sempre
enquanto isso Camila atravessava o jardim
tirava o vestidinho branco-pérola
desfazia-se dos incômodos saltos 15
calcinha e sutiã na piscina
broches da avó na mangueira
e Camila atravessou o portão de bronze
pegou um táxi na avenida
pediu para ir para a praia mais bonita
(ninguém entendia a pequena Camila)
pagou com um beijo na testa mas não deixou gorjeta
correu para a água fria
tropeçou na areia fina
arranhou o rostinho nas pedras da beira-mar
nadou até o horizonte
e caiu no precipício
até hoje esperam Camila para a festa
na cidade comenta-se que há um baile-fantasma
com um namoradinho idiota esperando uma princesa nua
uma avó chorona e outra tristonha
fotógrafos e colunistas esperando novidades
amiguinhas com vestidos iguais aos da novela
coca-cola e caviar
e uma banda tocando uma linda valsa que Camila nunca vai dançar