Sem Sentidos
Se não posso mais te ver,
De que vale o meu viver?
É melhor não ter visão!
Se não posso mais te amar,
Como eu faço pra calar
O tum-tum do coração?
Se não posso respirar
Seu perfume, que é meu ar,
Não deduz que vou morrer?
A paixão me faz querer
Que a navalha da razão
Estraçalhe o meu sofrer.
Se não posso degustar
Os seus lábios coloridos,
De que vale o paladar?
Meu sabor está ferido,
Virou sede de gemido,
Virou fome de penar.
Se não podem navegar
No oceano de cabelos,
De que valem os meus dedos?
Eu prefiro naufragar,
Me afogar nos meus apelos,
Feito um barco em alto mar.
Se não posso ouvir seu riso,
Que ressoa nos ouvidos,
De que vale a audição?
Seu sorriso de narciso,
Vou sentir num eco fido,
Da voz seca da ilusão.
Se não posso te escrever
Mil poemas de chorar,
Como eu faço pra dizer?
Se não posso mais rimar
Sua sorte e o meu azar,
É melhor eu te esquecer.
Se não posso ser sincero,
Musa fria, então eu quero
Que não leia meu caderno,
Porque nele estão escritos
Os meus sonhos mais bonitos,
Os versinhos que eu esmero.
Eu confesso: Tive medo
De pensar que era tão cedo...
Mas calei esse defeito.
Seu “amor” é meu hospício.
Apaguei num precipício,
Pra cor dar nesse seu peito.