CENSURA SENTIMENTAL
Liberdade definida em limites,
Prende-me o espírito, tolhe-me a essência, é aleijão de minha asa.
Há um abismo entre mim e o outro lado da rua. Entre o meu eu e eu!
Estranho mundo esse que me encontro, de ver, observar, e ver...e ver...
Sou ave paraplégica de medidos pios, de cantares conformes, permitidos,
possíveis, previsíveis.
Sou exótico à minha espécie que gorjeia lá fora onde tudo lhes pertencem;
o espaço, o azul do céu, a fonte fresca, o vento, a chuva, a vida.
Pintor das artes das letras que das tintas só tem duas. Que limitante.
Resumido a pintar nús com tarja preta, a tapar-lhes os seios e o sexo.
Não posso o que quero e o que posso não quero.
Antagônicas possibilidades ofertadas, ambas antônimas entre si.
Hiatos de encontros vocálicos do possível.
Cissiparidade celular de pensamentos, de opiniões.
São díspares, divergentes, o que vêem dois olhares num mesmo ponto.
Conceitos antípodas do que é correto.
Exótico dilema esse, dor de palavras, dor de pontos de vista.
Em ambas a dor permanece, judia, maltrata.
Ponho-me o errado estando certo.
Assim, canto limitado, com poucas estrofes minha sinfonia,
mas, talvez seja uma constante incoerência minha,
culpado por ter-me posto a viver, como pretendia.
Enfim, das duas dores, optei pela que me pertencia.
Afinal, dor de amor, dor de paixão, dor de opções,
são todas iguais, doem-nos na alma,
matam-nos aos poucos.
Faço-me resumido sabendo-me muito. Toco agora, meus horizontes
com a ponta dos dedos.
Desabei-me em mim.
Encolhi!
Athos de Alexandria 24-06-08