ABSTINÊNCIA

Na abstinência a que nos propomos

Para ficarmos longe do sofrer,

Não deixamos de ser o que já somos:

Amantes, apaixonados sem querer!

Querer um bem ao bem querido

A tal ponto, que querendo tanto,

O bem que era bom vira castigo!

Já não é prazer, é desencanto!

E não trazendo o bem se torna um fardo

Dolorosamente pesado ao coração.

O desejo fica, então, mal acabado,

Se se quer demais só por paixão.

Sobra o desejo a perturbar a calma:

Incontido, intenso, persistente.

Se o quero tanto, com o corpo e alma,

Porque não posso tê-lo simplesmente?

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 05/07/2008
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