O dia passado

Eu juro – não fugirei

apesar da manhã com gosto de chumbo

e do café frio no canto de padaria,

oh! estes dias enevoados sem névoa

esta frase repetida ad nauseam pelas telas

eu quero

uma música triste que relate tudo:

o miserável das ruas, o companheiro de trabalho

insuportável,

a mulher que se oferece após o expediente

a fraqueza moral, o espelho inexistente na memória,

na verdade

eu sou o insuportável

o anormal,

mas juro – não fugirei

quando as coisas parecerem inconclusas

ou quando meu rosto verter lágrimas de dor,

talvez minha mente não esteja bem hoje

talvez não esteja fazendo as conexões certas

ou falte algo nos lugares mais profundos,

que dia!

Nem sei para onde quero ir

nem sei quem quero ver

penso em versos para dizer enquanto caminho

todos esses poetas parecem tão distantes

toda a hora agora vê

passar tudo que se foi e agora acaba

minha sensação de alegria desencontrada,

eu escrevo para mim

egoísta

frustrado como poeta frustrado

calado como misantropo sociável,

por que tanta vida

para decorar as paredes do quarto

onde vejo o adolescente tímido

cantar a canção preferida,

pra que tanta vida para se caminhar

se no caminho, exaustos

desejamos nunca ter partido?

Mas juro – não fugirei

quando desabar minha náusea deste mundo detestável

e claramente ficar evidente

que minto a mim mesmo

e que jamais fui tão realista,

só quero fechar as mãos para aquecer o frio

fechar os olhos

dormir um bom sono,

até acordar,

que dia!...