Belos dias, velhos sonhos.

A chuva cai aqui fora

É uma garoa dançante, já não é mais verão.

E jogados no relento estão os carros

As almas dos jovens tão frios e pálidos

Lá fora estamos nós observando o tempo

E nossos velhos sonhos

São velhas ilusões que a chuva lava com prazer

Lentamente nós nos olhamos

E já não nos vemos mais

Nossos lábios permanecem mudos

Nossas mãos permanecem duras

Nesses belos dias de chuva incessante

A luz tão fraca desaparece na escuridão

Luzes de carros enferrujados passam com pressa

E nós permanecemos partidos

Entre sonhos pesados

E velhos desejos

Não deixamos mais sombras no chão

Nós nos olhamos e não nos reconhecemos

Nesses belos dias bicicletas passam ligeiras

Ninguém nos olha

Ninguém nos nota tão quietos, tão distantes.

Nós não nos sentimos

E deitados numa calçada tão fria

Observamos a morte invisível dos sonhos

As janelas embaçadas dos prédios

O movimento contínuo da massa morta da cidade

Uma brisa tão leve, tão fria.

Nos envolve em seu manto de cores claras

E com ela voamos juntos, cada vez mais frios.

Nós nos olhamos e não nos sentimos

Cada vez mais longe

Nós nos amávamos

E agora só nos resta queimar as lembranças

Estávamos tão perto

É estranho como as coisas mudam e como estamos tão longe

Esses belos dias de luzes fracas

Nos lembram os sonhos que resistiram por anos no escuro

Esses velhos carros debaixo da chuva

Nos lembram os restos dos sonhos partidos

Nós nos olhamos e não nos reconhecemos

Debaixo da chuva nós sentamos e choramos

Lamentamos o frio que nos abraça e as coisas que vão sem dar adeus.

E mal notamos como estamos tão perto e tão longe

Nós nos olhamos no escuro...E partimos descrentes na chuva