Passover

O conflito

revira os papéis da mesa

penetra nas salas, atira ao alto os jornais diários

o conflito

cerra a memória

estilhaça amores, circunda em lúgubre passagem

os olhos abandonados nos vãos das estações,

chama-se conflito

esse medo claustrofóbico de olhar as coisas

esse torpor malévolo que experimenta o gosto

do desconhecido, que anseia o grito, a dor, a sublimação,

receio, temor de que teus olhos despertem nos meus

delírios ainda mais

saudades ainda mais

conflito ainda mais

sala de escritório

distúrbio bipolar

ouvir tua voz chorando ao telefone,

ó profundeza dos mares, lugares solitários

vastos campos e intermináveis estradas

quantas vezes eu quis estar

nos teus abraços,

mas agora

ponho meu corpo à espera da guerra

revisto minha face com a ternura de um menino

meus olhos que estavam aflitos, despertam,

e o conflito

destroça belas noites ainda que luzes se acendam

que beijos sejam a única porta de saída,

ai de mim sem ter nada, sem ter nada

sem ter perto tua mão,

sem teu riso de criança esperando carinho,

conflito, medo de sair,

ainda que teu amor seja para mim

mais que todas as coisas incertas, amargas

desejos ainda mais ...