Eternidade

Quem dera Deus me levasse a essa rua que a minha frente passa

e carrega o mundo com suas dores virulentas

talvez minha alma rota sem similaridades

ou um sonho amargo como quem sabe o tempo,

quem dera todas as vezes que na tristeza por aqui caminha

vagasse também um anjo sorridente, mas não, apenas um vazio

um desespero cru e dissonante, uma constatação do caos

nesse dia

funesto sol

pele seca, lágrima caindo

cosmogonia

eu sinto ciclones nas veias rasgando as metades

que ficaram,

saberão os filhos dos filhos dos filhos

que tentamos exaustivamente

a paz em vão?

Quem dera Deus me desse um pedaço de chão

de sete palmos, duas braças, um terreno

para plantar minhas rosas infectadas de raiva,

e cuspir nas faces podres da comodidade

minha náusea disso tudo,

um pedaço de céu

azul impressionantemente azul

onde coubesse uma estrela

para o dia inteiro chorar desinibida

pelas minhas chagas nem tão secretas.

Quem dera um campo branco de flores

para a morte silenciosa do sonho...