Sentimento Sepultado
Lembro do nascimento daquele sentimento, em que presumia ser tardio. Mas, logo percebi que a cada acometida desastrosa morria aos poucos, se equiparando a um círio – tem tanto lume e sozinho se acaba. Logo então, ele, estertorando morreu.
Percebia que a exérquia dos sentimentos seguia a passos céleres, contíguo da desesperança que sobrepujava a esperança, rumo ao funeral onde não teve, sequer, direito a um velório. E via claramente os instrumentos trabalharem:
Cavadeiras que minam além das origens do coração, na busca descomedida de um dote à correspondência, incentivada ou motivada pelas perquirições encefálicas.
Picaretas que cavam com os acúleos do desprezo, a sepultura da consternação, ou do coração não correspondido; escoltadas de pás que servem para extrair os resquícios resultantes do esmorecimento; e que depois trabalham para inumar as mágoas, desapontamentos afáveis e o azado amor unilateral.
Soquetes e marretas perfazem o serviço golpeando o solo improlífico do coração, que de tão inerme se atassalha e os nacos mendigam o amor acalante de sua raiz e aguardam esperançosamente à correlação em um novel amor que lhe possa juntar os pedaços. E que possa buscar a morte súbita da transcendente saudade do coração.
Sobre a cal, as pétalas das flores espargidas são as únicas companhias do desvanecido anseio que terá, sempre...
E, por fim, apenas a lápide afixada de pé, que guarda em si a reminiscência descrita, isolada, olvidada:... “Aqui jaz um sentimento”.