Ode aos homens modernos

Quem sois vós, ó passantes,

que desdenhais dos loucos, obsessivos e mentalmente aquém

mas não percebeis o conformismo burro atrelado em vós?

Quem sois vós, ó passantes

que orais ao Deus dos céus em intermináveis ladainhas ‘venha o teu Reino’

mas que depositais vossa confiança em políticos asquerosos e homens indignos até mesmo de uma oração?

Quem sois vós

que sabeis de cor os nomes da última celebridade, do último artista de sucesso, da última moda redundante

mas nem lembrais do nome dos doze apóstolos de nosso Senhor?

Quem sois vós, ó mentecaptos

que deixais vossos filhos ser cuidados por televisões e sonhos sem cor

e os levais a shoppings, ensinando a eles a arte de consumir mais e mais

mas não os deixais por os pés na terra, correr nos campos e rir sem motivo?

Quem sois vós, ó artistas do previsível

que sabeis quem é o último herói, da última saga, do último filme

mas não enxergais o mundo real com suas mazelas, seus heróis cotidianos, seus garis, professores, seus idosos apodrecendo em asilos, suas crianças sem futuro?

Quem sois vós, ó transeuntes do medo,

que exigis seus direitos como cidadãos, reclamais das falcatruas dos outros, que protestais de tudo sentados em confortáveis poltronas,

mas que nem moveis vossos dedos para ensinar nada, que nem cumpris o menor dos deveres para com Deus e que simplesmente esperais para se juntar às corjas de lobos que tanto criticais?

Pergunto: Quem sois vós, ó operários do ócio, partidários do vazio

que levantais vossas bandeiras para o time campeão

mas não sois capazes de dobrar seus pérfidos joelhos para agradecer numa prece?

Quem sois vós

que laureais com medalhas e honrarias seus generais chafurdando em mofo e ódio

mas não sois capazes de promover a paz nem mesmo com vossos vizinhos e parentes?

Quem sois, ó estrangeiros em si mesmos

que vos proclamais católicos, protestantes, budistas, homens de Deus

mas ergueis nos olhos do mundo fronteiras nacionalistas

e matais vossos irmãos de fé em guerras irracionais e limpezas étnicas

irmãos que dizem acreditar no mesmo Deus?

Quem sois, ó descrentes de tudo

que encheis igrejas buscando progresso

e ofertais a homens, tão pálidos e imperfeitos quanto vós

vossos tesouros e dádivas

mas que nunca lembrais que aquele que dizeis seguir

não tinha morada, nem ouro, nem opulência?

Quem sois vós, ó fantoches do orgulho

que à cada conquista, a cada coincidência da vida bradais, ‘graças a Deus!’

mas que ensinais nas escolas que esse mesmo Deus é distante e que nada criou, que tudo é obra do cego acaso?

Eu sei quem sois vós, ó homens de brinquedo!

Vós sois o tempo revelado, a profecia cumprida

vós sois o retrato da descrença e da dor

os guardiões de mármore em pés de barro

o homem triste, expulso do paraíso!