Queimei os meus poemas

Por causa do frio que chegou

Porque a lágrima secou

Por causa do fim de um amor

Porque a dor passou

Queimei aqueles poemas

Que falavam do amor platônico, da saudade, do acaso, da descrença

Os que falavam de mim, deixei ficar os rascunhos

Os primeiros versos de momentos vividos

Os segundos mortos, dor nos punhos

A gaveta do criado-mudo estava cheia

Dos poemas que gritavam mas ninguém ouvia

Das palavras soltas nas linhas tortas que escrevia

Da caneta escorria o azul-escuro da tinta borrada

Quando o papel abria, lia e depois amassava

Joguei na lata do lixo, o que era lixo

Peguei a caixa de fósforos, para ter o fogo em minhas mãos

Risquei o palito reflorestado, acendeu a chama, incendiou as líricas

Pude ver em meio as cinzas se formando do pedaço de uma estrofe

Pude ver uma chama mais azul, iluminava algumas palavras como:

Amor, Dor, Sossego, Perda, Vida, Novo, Mudar, Passar, Sorte

Palavras que eram por si mesmas, lindos poemas, singelas poesias

Que o fogo da paixão queimou, que no céu seria declaração de amor Num show pirotécnico, de um foguete sem pavio

Cinzas dos papéis desintegram, evaporam no ar

Mas com estas cinzas que um verso vazio irei começar.

Erika Soares
Enviado por Erika Soares em 04/06/2010
Reeditado em 20/04/2015
Código do texto: T2299175
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