Tristeza antiga

Há festa no mundo.

Retornemos ao começo de tudo.

Vagueiam pelo caminho bestas infernais.

As mulheres escondem-se em cavernas milenares.

Suas crianças são alimentos de leões e pardais.

Pobre cruel e antiga criatura!

Aprenderam a falar.

E na pedra deixaram sua assinatura.

A paz nunca veio.

Nem o conhecimento de si.

Nem o amor pelo outro.

Nem tiveram todos os seus sonhos concretizados.

Antes foram concretados.

Ergueram castelos na areia.

Falaram, falaram palavras.

As águas as levaram para o leito dos rios cheios de poções fétidas.

O vento apagou-lhes as pegadas.

Ninguém lembrou-se de suas faces suadas.

O seu soldo foi o sol quente, quente como o verão do Ceará.

O seu salário foi o sangue, sangue quente de gente.

E a angustia e a dor os acompanhou até aqui.

É a hora derradeira.

Pequenos saltos de folguedos.

Algodão doce, pipoca e esperanças muitas.

Acabou a brincadeira.

Deixamos para trás nossos ossos.

As marcas de nossa ânsia.

Compraram-me um caixão à prestação.

Deitaram-me nele: Pobre homem!

Choraram sobre ele algumas horas.

Depois o levaram embora.

Jogaram terra sobre a terra.

O pó sobre o pó.

A natureza de mim não teve dó.

O meu ventre estourou para os vermes.

Comida farta para essas criaturas.

Então terminou.

Há festa no mundo...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 19/11/2010
Reeditado em 23/04/2014
Código do texto: T2625514
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