APOCALIPSE

Apocalipse

Uma flor murchou ao sol.

E este implacável, como sempre, se esqueceu: Era apenas uma flor.

Não faz falta, existem tantas.

Pensou o astro rei.

Suas pétalas caídas,

Prenuncio de uma fatalidade.

Seu cheiro de vida,

Sua ausência em meu jardim a faz única.

O mágico dos sonhos perdeu o encantamento.

Diziam: A ciência cessará o sofrimento.

O calor é um tormento,

Homens e máquinas se dão em casamento.

Há um cavaleiro no arco-íris.

Há uma dor no meio da rua.

Há uma agonia na pele nua.

Há fome na carne crua.

Lá no norte, se sabe que se come salmão.

Cá embaixo margaridas andam peladas com bóias frias.

O capim secou-se de tanto apanhar de seu dono.

A vaca desaprendeu a mugir.

Só escorpiões conseguem esconderijos nos planaltos.

Vai chover mais tarde.

Tarde chegada tarde à noite.

Teu povo não mais se lembra de tuas estórias.

Tuas palavras foram extirpadas das memórias.

Só tem um que de ti se recorda: o medo!

Insolação à beira mar.

Derme quente e água de coco.

Um verão que nunca passa.

Se eu pudesse, eu plantaria mais flores, mais rosas.

Teria mais amores,

Diria que te amo,

Viveria todos os dias como se fosse o último.

E contigo me esconderia da ardente criatura.

Fera mutante da história.

Criatura nossa e tua.

O sol ainda vai arder até que nos cansemos de nossas obras.

Então ficarão as sobras?

De que?

De quem?

Aqui havia um jardim que o sol queimou...

A água faltou.

O vapor a levou.

E a nós também...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 26/01/2011
Código do texto: T2753353
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