Um sorriso na escuridão

Acenda teu cigarro de palha

O fumo na navalha

se corta e espalha

Por dentro, o barro

Por dentro, o bravo

nos comove

nos locomove

sem direção

sem salvação

A solidão de teu corpo

me ama, me beija, me deseja

como uma necessidade vulgar

Como pode se amar?!

Sem se enganar?!

Como pode se enterrar?!

Vivo, simplesmente vivo?!

Um sorriso na escuridão

convertido pelo vinho

Uma lágrima no copo

procurando um caminho

Uma tempestade despertada

pelo nascer de um espinho

Jogue teu cigarro fora

O amor foi embora

O cheiro da chuva

exala pelos corpos

A realidade te assusta

como um véu branco

Jogue teu cigarro fora

pois tua boca está queimada

esta fumaça tem morte... tem fuga...

Dê adeus pela vidraça.

Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas