Casmurro

Uma parte de mim ainda te quer.

Outra parte de mim só te renega.

Essa parte de mim, que vês, que é mulher

Deseja-te, homem, e não nega.

Mas esta outra que em mim habita

Culpa-te, amor, e não te perdoa,

Por mais que minha razão reflita,

Por mais que essa sensação me doa...

Lembro o dia em que me deixaste

Por razões que dizes desconhecer.

E após quatro estações tu retornas,

Sem de tua sobra te aperceber...

Já esqueceste tudo o que fizeste:

O veneno mortal em tuas adagas

Transpassando o coração que quiseste,

Enquanto por minha dor indagavas...

Não morri, percebes? Ainda vivo!

E é teu o veneno que me alimenta.

E o doce amor, agora nocivo,

Me causa náusea, me atormenta...

Pois outra cama deixaste inda quente

Pra voltar à sua antiga vidinha.

E eu, mulher, te recebi contente

E te ouvi de novo dizer: _ Tu és minha...

Mas esta outra que em mim habita

Não quer pra ti uma vida enfadonha.

Quer, no fundo, que tudo se repita:

Devolver-te as adagas não é vergonha

Lilian Valéria Domiciano Cossuol
Enviado por Lilian Valéria Domiciano Cossuol em 24/11/2006
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