Ninguém

Você conhece alguém que se chama ninguém?

Ou talvez exista alguém que pra você não seja ninguém?...

Alguém que nunca existiu, e que se passou pela sua vida

Foi um acidente de percurso. Uma daquelas coisas que jamais deveria ter acontecido.

Um equívoco não muito bem explicado, onde o impulso foi mais rápido do que

O raciocínio lógico, e quando você menos esperava estava nos braços deste alguém,

Ou melhor, deste ninguém. Alguém que de tão insignificante hoje pode mesmo ser

Chamado de ninguém. Alguém que ao que parece só te fez sofrer, te aprisionou, te sufocou,

Roubou-lhe a alegria e a felicidade. Alguém que saqueou sua caixinha de segredos, afanou

Teus prazeres, furtou sua distração e o que mais te realiza e faz sentir gente. Bem, tudo isto

É o que parece ser. Alguém que se atreveu a propor-lhe sonhos que não sonhaste, planos que não traçaste. Alguém que invadiu a sua privacidade e fez viver uma vida que jamais imaginaste. Pra você este alguém mereça mesmo ser chamado de ninguém. E é por isto que hoje tu classificas este alguém como o que sentes que deve ser e assim procedes: Ninguém.

Mas afinal quem é ninguém? Ninguém é alguém que se um dia foi alguma coisa hoje é um zero à esquerda; uma página virada; um trecho da história a não ser contado, nem tampouco lembrado; ignorado; deixado de lado; tratado como se nunca tivesse existido; isolado, mas tão bem isolado que não ter notícias nenhuma é o melhor caminho a ser tomado.

E eu insisto na pergunta... quem será este ninguém? Este ninguém com quem nunca sorriste; com quem nunca sonhaste; com quem nunca brincaste; com quem nunca alguma coisa planejaste; alguém com quem nunca dividiste ideais, noites de sono acordado a imaginar um amanhã a dois. Quem será este ninguém, que de tão ruim tenha que ser com urgência posto em quarentena, ou porque não, de uma vez por todas lançado no fundo do poço do esquecimento? Minha perplexidade diante destes fatos me deixa boquiaberto, incrédulo com a tamanha frieza. Minha natureza não concebe que tal procedimento seja coerente com ações e reações naturais de seres humanos que tendo, no mínimo, um pouco de Deus na vida consiga levar uma vida “normal” fazendo-se completamente blindado de sentimentos que afetariam com certeza até mesmo um animal de estimação, como um cão, por exemplo. Os cães, exemplo maior de fidelidade, que em qualquer situação tem as caldas sempre a abanar para os seus donos como gesto de satisfação pela companhia, mesmo que às vezes falte comida e abrigo. Já viste os cães que dormem ao relento com os mendigos? Inveja-me a porção divina que há nestes dóceis seres que dão-nos o exemplo maior de se dar sem nada querer em troca, senão o carinho. Algumas situações me deixam tão mal, que me fazem pensar se não sou inferior a estes cães. Bem... Eu sou ninguém... Ninguém é alguém que não existe mais, e se algum dia existiu... sumiu, se extinguiu. Dói, dói demais saber que os meus sentimentos foram desmerecidos, que fui envolvido, quem sabe engolido, tragado por ilusões que hoje me “presenteiam” com um “cavalo de tróia” onde dezenas de “assombrações” saqueiam a minha paz, meu sono, minha quietude, minha impagável tranqüilidade. Eu sou ninguém, e quem és tu? Já paraste pra pensar em quem és? Já meditaste no que és? Dizem que quem planta chuvas colhe tempestades, e talvez este temporal seja fruto de uma semeadura mal resolvida no passado, mas a vida como um ciclo, prossegue a lei da semeadura. Quanto a ti, plantei minhas melhores e mais bem selecionadas sementes... Não me arrependo de nada do que fiz. Dediquei-me sem medir conseqüências, sem medir resultados, apenas contei com a lei da reciprocidade. Plantei ventos suaves, esperando um brisa leve no rosto, e no meu rosto hoje o que de longe pode ser visto são lágrimas. Mas que diferença faz? Eu sou ninguém, e ninguém, na realidade nem rosto tem. Lágrimas? Você ouviu algum soluço? Claro que não... “Ninguém” está tão longe que o seu lamento possa ser ouvido. Há sons e ritmos alegres a sua espera do que ter que aturar a tristeza de “ninguém”. Afeta-me sobremaneira uma indiferença jamais imaginada. Incompatível com o seu perfil. Absurdamente diferente de qualquer expectativa. Seria este ninguém tão inocente assim? Ou que outra resposta explicaria este quadro grotesco pintado pelo mais sádico artista? Apenas para lembrar-te: este “ninguém” é gente, tem coração, tem sentimentos, é extremamente sensível, carinhoso e amoroso. Este “ninguém” nunca te enganou ao declarar amor incondicional. Este “ninguém” nunca mentiu ao dizer que te amava nem nunca esvaziou-se deste nobre sentimento. Este “ninguém”, apesar de ignorado, continua vivo, existe, e tal como um cão de um mendigo continua firme no seu instinto de fidelidade. Isto porque, este “ninguém” é alguém com atitudes com as quais tu não contavas: Não foste uma aventura, pois eu te amo de verdade, e enquanto houver no dicionário a palavra esperança, agarro-me nela!!! Posso hoje ser ninguém, mas no fundo eu duvido que tu no teu silêncio não te lembres que este ninguém é alguém, e este alguém sou eu.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 11/08/2011
Reeditado em 07/09/2011
Código do texto: T3154587
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