Inda que eu vague por montes,
inda que vague por vales;
que veja nos horizontes
as visões puras, sem males;

Inda que eu durma na relva,
inda que sonhe nas nuvens;
que veja na Estrela d'Alva
só uma estrela, em viagens;

Inda que eu cresça e recresça,
inda que parta e retorne
aos braços que não mereça:
sei ser massa vã e informe,

Inacabada e final.
E, não bastasse isso tudo,
Deus, num afã celestial,
o eco de um grito agudo

Me faz repetir, cabal:
um eco distante e azul,
febril: em mim tenho, imortal,
a maldição de ser poeta...

                    (escrito na juventude)

Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 20/08/2011
Reeditado em 23/08/2011
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