...LONGE...

Hoje eu quero ficar longe de tudo...

Apagar da memória os faróis e as buzinas dos carros;

As palavras, os ponteiros do relógio, as orações mecânicas.

Meu pensamento do pensamento quer distância, hoje!

Quero somente sentir, como um cego, que de repente recobra a visão,

E fica espantado com a textura das próprias mãos.

Nunca mais ouvi aquele silêncio que não é todo silêncio mas pacifica.

Nunca mais ouvi minha alma me chamando como uma criança gritando numa caverna... Nunca mais me perdi: o calendário, a agenda, o despertador...

Hoje, paradoxalmente, eu quero a Incerteza,

A Incerteza fatídica dos mambembes, dos caixeiros viajantes, dos ciganos,

A Incerteza da Vida!

Quero queimar com minhas próprias mãos esses malditos códigos que transformaram a existência numa corrida fútil e previsível!

Abaixo a Vida Eterna, abaixo o Eterno Retorno, abaixo o Juízo Final!

Sou muito complexo para me deixar enredar por simples ninharias.

Aracati-Ce., 13 de março de 2006.

André

[Malu a você dedico estas estrofes, para que sejas forte e não te deixes enredar pela teia mesquinha dos que se acostumaram com o trivial, dos que vivem enfeitando o Desconhecido com qualidades e defeitos Conhecidos pensando que assim agindo terão desvendado o mistério da Vida]