D a f n e

Num canto rouco e abafado,

jaz Dafne num solo abandonado,

revivendo em esgrimas de opostos

a lápide que ruiu para seu consolo.

E ao rechaçar em Apolo

um possível sol-enamorado,

faz-se vestir com véus transparentes

de vida, findando atos subconscientes

ao surgirem clarões translúcidos

que desintegrarão suas máscaras.

Num canto mudo e empedernido

faz Dafne num último esforço

a união do reflexo e do espelho,

mesmo percebendo em sua voz o seu receio.

E ao vê-lo todo esmigalhado

compreende em suas múltiplas

imagens o seu delírio na forma

una ou múltipla de invocar a realidade.

Jaz Dafne num último suspiro,

num sopro de arvorado esquecimento,

quando principia a buscar seu início

para findar-se sem lauréis

no seu último movimento...