ILUSIONISMO

Tantos caminhos são artifícios

para uma impossível chegada

que vale palmilhar a lembrança

rota de fuga pelo cimo dos edifícios

um caminhar pretérito, viver nos ofícios

de um pretenso saber de mistérios.

Para a arte do escapismo

não caberão latitudes

que não sejam

as marcadas no peito

na pele profanada, tatuagens

cicatrizes da boçalidade

beatitudes e beijos.

Talvez, o disfarce

talvez, o absinto.

Não sei. Prestigitador.

Sumir no vapor da tabacaria

num sortilégio brilhante

nas baforadas, nos rolos

de fumaça, na avenida febril, inebriante

plena selva de faces tortas.

Sou infeliz e minto.

Na buzina, o trinado

do pássaro metálico, mutante.

Devias a ti, um mergulho

na vida, na relva, na memória da treva

no passado irrelevante, irrevelado.

Não é só pelas plumas

leves e claras

que se conhece um pássaro.

Sabe-o, também, pelo trinado.

E a vida, se vai seqüestrando

a sorte, na esperança

de distrair a morte.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 24/01/2007
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