ILUSIONISMO
Tantos caminhos são artifícios
para uma impossível chegada
que vale palmilhar a lembrança
rota de fuga pelo cimo dos edifícios
um caminhar pretérito, viver nos ofícios
de um pretenso saber de mistérios.
Para a arte do escapismo
não caberão latitudes
que não sejam
as marcadas no peito
na pele profanada, tatuagens
cicatrizes da boçalidade
beatitudes e beijos.
Talvez, o disfarce
talvez, o absinto.
Não sei. Prestigitador.
Sumir no vapor da tabacaria
num sortilégio brilhante
nas baforadas, nos rolos
de fumaça, na avenida febril, inebriante
plena selva de faces tortas.
Sou infeliz e minto.
Na buzina, o trinado
do pássaro metálico, mutante.
Devias a ti, um mergulho
na vida, na relva, na memória da treva
no passado irrelevante, irrevelado.
Não é só pelas plumas
leves e claras
que se conhece um pássaro.
Sabe-o, também, pelo trinado.
E a vida, se vai seqüestrando
a sorte, na esperança
de distrair a morte.