Noturno
É no escurecer da noite
Quando a lânguida sombra
Cobre todas as coisas
É que escuto o meu coração
E deito
E me recolho.
É quando consigo ver
Do que realmente sou feito
E me assusto
E me tranco
Quando a noite vem.
Quando a solidão bate a porta de minh'alma
E consigo então
Mensurar sua imensidão
E ao apertar sua mão
Perceber que somos um
Disforme ,
Esquecido,
Amargurado um.
É quando a noite vem
Com seu manto estrelado
Que o vazio que trago no peito
Sai
E vem se deitar ao meu lado.
É quando a noite cai
Que ouço as batidas solitárias do meu coração
A dizer
Meu amigo
Não se desespere
Mais triste é aquele
Que nem a tristeza
Pode alcançar.
E aí
Quando a noite desce
É que descubro
Que o meu lugar
É entre seus panos escuros
E me fecho
E me encolho
E recolho os meus farrapos.