O que sobra

sei do tempo que nos acompanha cortando a pele como lâmina fria

sei da melancolia que ocupa a mão vazia de sonhos

e do silêncio que queima a fome no prato vazio

da mãe que não encara um filho nos olhos por não saber dar explicações

foram-se os dias em que precisava da altura

para contemplar futuros

é nesses planos terrenos em que estamos

comprimidos pelas mesmas ausências

que choro as escassas compreensões

tão poucas são as mãos que se estendem

tão poucas as razões que se entendem

tão poucos os pés no chão

o orgulho do homem se dissolve na fumaça

que o próprio homem produz quando queima sua alma

recolho o verbo o silêncio e o assombro

o que sobra nem nome tem

Helenice Priedols