ADAPTADO PELO ÓPIO
Filho bastardo
Duma pátria prostituta
Genitora de proletariado
Vivo sempre à procura
Em intervalos esporádicos
Duma engrenagem segura
Onde possa adaptar-me
Porém engrenagens complexas
Não aceitam mola tão prosaica
E eu...
Ai de mim
De fato sou tão prosaico
Através de um mecanismo de desventuras
Apenas duas coisas me valem
Ora noites de festas e procura
Ora dias de febre na testa e cansaço
Nada me prende a nada
Ao sair pelas ruas armo-me
Visto uma armadura em minh'alma
E deixo os meus sentidos em alarde
Procuro proteger-me
Porém a doença é inevitável
Minh'alma ficou louca
Clama por sua dose diária de ópio
Alma outrora chama viva
Tornou-se reles brasa
E minha memória
Outrora impressionista e encantada
Digna duma obra de arte
Tornou-se fria e obscura
Como as cores de Frida Kahlo
Daí vem sempre aquela busca
A cada dia
Uma paixão nova
Desejando mil coisas
Todas juntas
Devorando-me por dentro
Com fome semelhante
À dos minutos contentes
Ao devorar as horas tediosas
Só assim
Os dias convalescem
Visto que o ópio consala-me
E trazem consigo
Alguns instantes de misericórdia