DESILUÇÃO DE VIDA

DESILUSÃO DE VIDA

Do útero de tua mãe ouvistes

ternos murmúrios de carinhos,

teus pais se enchiam de orgulho,

do filho prestes à vida fluir,

as boas vindas, te fazia refletir

e sentias esperança na vida do porvir.

Esperneavas no líquido amniótico,

ansioso, ficavas logo do útero fluir

na vibração de um belo alvorecer.

Teus pais não te explicaram o caminho

árduo que irias percorrer,

e que a vida pós-uterina teria a ti oferecer.

Nascestes sem gemidos e dor de tua mãe,

desviado do caminho que irias percorrer,

sem compreender, olhas para as luzes,

pareces estar de olhos embaçados,

estais mudo, mas de olhos arregalados,

a nova vida te deixa embasbacado,

parece um mundo encantado.

Recebes então uma palmada na bunda,

despertas do estupor com gritos de dor,

te sentes como um desamparado.

Ouves risos e vozes: Viva vida!

Pelas trêmulas pernas és pendurado,

apalpam e olham o teu corpo molhado,

a procura de alguma imperfeição,

logo sofres a primeira decepção,

não é modo delicado de saudar nova vida.

Resmungas, chora num ato de inútil defesa,

ouves então a voz de tua mãe e dela,

emocionada, recebes o primeiro abraço,

onde palpita meigos sussurros no coração,

iguais àqueles que ouvias do útero, então,

Sua voz clama: É lindo! Lindo! Lindo!

É meu filho, deficiente ou não!

Aconchegado em seus braços, sôfrego,

sugas o gostoso leite do peito caricioso,

refletes confiante, com o amor de mãe,

o caminho não te parece tão doloroso,

sentes proteção e amor em seu coração,

parentes saúdam tua boa disposição

em visitas com presentes de admiração.

0-0-0

Até os três anos de linda e boa vida,

do "mundo" és todo amor e paixão.

começas então a conhecer nova vida,

levas palmadas e de orelhas puxão,

controlam teus passos como obrigação,

muitos te acusam de má-criação.

Tua dedicada mãe, te entrega à babá,

ou te leva para o "jardim prisão".

Se és pobre, vais para a rua esmolar,

para ajudar na magra refeição.

Ambos choram a dor da separação,

porém melhor lugar não há

para aprenderes a levar e dar safanão,

pra no futuro saberes, a vida é mole não.

Sequer gozastes do direito de nascer,

não foste parido, nasceste de operação,

logo descobres que foste enganado,

tivésseis da vida uma falsa visão,

durante a infância ficastes revoltado,

dos pais não recebeste apoio e amor,

recebeste uma alheia e má criação,

com gritos, porrada e repreensão.

Vivestes espantado como pinto em terreiro,

apavorado com medo de galo e gavião,

desamparado, o que farias então?

Suportar, só com droga de alucinação,

de educação, só da babá, rua e televisão,

zonando nos becos, trocando safanão,

terminastes vítima da escola da Febem,

idade militar, a farda já não lhe cai bem,

porém tem que prestar serviço à nação.

Se o malfadado destino não lhe marcou,

ingressas como policial em batalhão,

portas, com orgulho, moderno queimante,

que te dá autoridade e te faz machão.

Devolves as porradas que levou,

culpa dos pais que te abandonou,

nos caminhos do desamor e da perdição.

Hoje usas farda, és defensor do cidadão,

bem treinado ou não, és policial de plantão,

para o que dê e vier; estais nas manchetes

da mídia em busca de fatos de sensação.

Se és bom, ela cala, se erras muda de opinião,

condenado, exposto ao povo à execração,

uns dizem: é um herói; outros é covardão,

teu destino é a prisão ou um caixão,

fostes fruto de uma classe da violência,

tratado pela sociedade como exclusão,

produto de políticos do mundo da podridão.

" Quem não tiver culpa, atire a primeira pedra!"

( Att. Compus este verso inspirado no assalto a um õnibus, com a trágica morte da professorinha Geilsa.)

(Por favor, critique sinceramente meus trabalhos. Se assim não fizerem não me dão oportunidade de me aperfeiçoar. Visite meu site irandivalencia.Grato)

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 29/04/2007
Reeditado em 29/04/2007
Código do texto: T467993